Com a chegada, em março, da pandemia da Covid-19, a partir do mês de abril, o Governo Federal criou um auxílio emergencial, no valor de R$ 600, para ajudar os brasileiros mais pobres no momento de crise. Mário Oliveira, de 22 anos, foi um dos amazonenses que se inscreveu para ter acesso ao valor, mas demorou cerca de cinco meses para receber e ainda segue com as parcelas atrasadas. Por meses, ele fez parte do grupo de mais de 10 milhões de pessoas que ainda não conseguiram receber o benefício.

Somente no Amazonas existem, aproximadamente, 1 milhão de beneficiários do auxílio, o que significa, R$ 600 milhões injetados na economia do Estado com a liberação do recurso, dado que é visto como positivo por representantes do comércio e economistas. Contudo, cerca de 10,5 milhões de pedidos ainda aparecem em análise no Brasil, mesmo que, de acordo com a Dataprev, 8,9 milhões estejam em fase final de homologação pelo Ministério da Cidadania.

Mário enfrentou filas imensas e esteve ao lado de milhares de outros manauaras que esperaram por meses para serem atendidos. Desempregado durante todo o período da pandemia, ele ficou com o seu pedido em análise durante três meses, até receber a resposta de que sua solicitação havia sido negada. “Eles afirmaram que ainda estava trabalhando, mas eu não estava. Corri atrás da contestação e ainda fiquei mais dois meses em análise e depois para receber o dinheiro em espécie ainda foi cansativo”, conta.

Helen tentou entrar em contato com a Caixa, mas não recebeu resposta
Foto: Divulgação

Segundo ele, a burocracia e o transtorno foram imensos até a sua aprovação chegar e ele receber o valor de R$ 600 reais. Durante a espera, Mário contou somente com o aprendizado que levou consigo quando serviu nas forças armadas. “O que surgia de serviço eu fazia para me manter financeiramente. Até fui pintor. A única outra ajuda que tive foi da minha mãe, pois moramos juntos e ela conseguiu acesso ao auxílio”, relata.

Até agora, Mário só recebeu uma parcela do benefício, enquanto Helen Sami, de 26 anos, que também está desempregada, não chegou a receber nem a primeira. Ela trabalhava como babá e, com a chegada da pandemia, acabou ficando sem sua renda mensal, então, optou por solicitar seu auxílio emergencial. Na mesma época, seu esposo teve os dias de trabalho reduzidos e, portanto, o salário também.

“Dei entrada no começo de abril, assim que foi noticiado, e fiquei esperando o resultado por semanas. Quando finalmente saiu, vi que foi negado, sob a justificativa de que membros da minha família já haviam recebido. Só que eu moro de aluguel e o meu esposo sequer fez o cadastro. Tentei ligar para a Caixa, mas fiquei sem resposta”, descreve a ex-babá.

Mais de 10 milhões de brasileiros não conseguiram receber o auxílio
Foto: Lucas Silva

Helen não desistiu e buscou a defensoria pública, em junho. Ela enviou todos os seus dados e está no aguardo do processo da ação até agora, dois meses depois. “Eles demoraram dois meses para receber meus documentos e só agora instauraram um procedimento. Tentei contato com a Caixa novamente e eles disseram que a responsabilidade não é deles, porque eles só liberam o dinheiro e não o aprovam”, revela.

Ana Letícia, de 21 anos, também foi uma das vítimas da burocracia, mas acabou desistindo de pedir o auxílio depois de determinado tempo. Quando era mais nova, Ana recebia bolsa família, mas parou quando completou seus 18 anos. Desde então ela saiu da casa dos pais e foi morar com sua tia.

“Quando a pandemia chegou, fiz meu cadastro e coloquei outro endereço. Contudo, me foi negado o benefício duas vezes com o argumento de que duas pessoas da minha casa já tinham recebido, só que isso não aconteceu. Cheguei a entrar no site do Dataprev e vi que não era possível contestar, então acabei não indo mais atrás e me virando sozinha durante a crise”, explica. Ainda assim, Ana revela que sua tia conseguiu receber e o valor mensal foi capaz de ajudar nas despesas principais dentro de sua casa, como o aluguel e as contas de água e luz.

Fonte: Em Tempo