Nas oito primeiras rodadas do Campeonato Brasileiro, muitos clubes têm apostado em jovens jogadores formados na base para conquistar bons resultados e salvar a pele de alguns treinadores. Os garotos pedem passagem e deixam os veteranos no banco de reservas.

É o caso, por exemplo, de Palmeiras e São Paulo. O time alviverde teve cinco jogadores formados na base em campo na vitória por 2 a 1 sobre o Red Bull Bragantino, com destaque para Gabriel Veron, que entrou no segundo tempo, marcou o gol de empate e deu assistência para Willian virar a partida.

Na equipe tricolor, o número foi ainda mais alto na vitória sobre o Fluminense por 3 a 1: sete jovens que cresceram em Cotia atuaram, com destaque para Brenner, autor de um gol e participação em outro.

No Palmeiras, o projeto de utilizar meninos tomou corpo nesta temporada. O técnico Vanderlei Luxemburgo deixou medalhões no banco de reservas e apostou em Patrick de Paula e Gabriel Menino no meio de campo. Patrick de Paula, inclusive, foi o último a cobrar o pênalti sobre o Corinthians na final do Campeonato Paulista e garantiu o título estadual ao time alviverde.

O coordenador da base do Palmeiras, João Paulo Sampaio, comemora o sucesso dos garotos no elenco de cima. “O trabalho de reestruturação tinha essa meta como um dos pilares do sucesso da base. Talentos se formam em casa, e os investimentos feitos pela diretoria no CFA (Centro de Formação de Atletas) nos últimos anos não foram à toa com tantos títulos e convocados para seleções. A tendência é dar ainda mais espaço a eles”, disse Sampaio ao Estadão.

O São Paulo também conta com sua base na campanha que até agora deixa a equipe em segundo lugar na tabela de classificação, apenas a um ponto do líder Internacional, e salva o trabalho de Fernando Diniz. Os chamados “made in Cotia” hoje têm a confiança do técnico. Nos últimos jogos, Diego Costa assumiu a titularidade na zaga, Gabriel Sara foi escalado no meio de campo e Paulinho Bóia é dono do ataque. Além disso, ao sair do banco de reservas, Brenner foi fundamental nas vitórias sobre Corinthians e Fluminense. O meia Igor Gomes também tem sido utilizado com frequência.

Paulinho Bóia, 22, diz que Diniz passa confiança. “Essa sequência está sendo muito boa para mim. Estou dando o melhor para retribuir essa confiança. O professor Diniz está me dando muito moral e tem conversado bastante comigo. Não só ele, mas todo o grupo e toda a comissão técnica. Isso me dá respaldo para jogar, ir para cima, usar minhas características para o time. Aos poucos, a confiança vai aumentando”, afirmou o atacante, que estava encostado no clube e foi reintegrado em junho, na retomada dos treinamentos após a paralisação provocada pela pandemia do novo coronavírus.

Usar a molecada é uma tendência nos times brasileiros, principalmente no ano em que o calendário está apertado e o dinheiro é curto por causa da falta de público e parceiros. Se der certo, o clube ganha de duas maneiras: usando o talento do menino e recuperando todo o dinheiro investido na formação em uma venda para a Europa, por exemplo. O São Paulo viveu isso com Antony, que está no Ajax, da Holanda.

No Santos, até por causa do elenco reduzido e da punição na Fifa que impede o clube de contratar, o técnico Cuca confia nos “Meninos da Vila”. Com tradição de formar jogadores, principalmente no setor ofensivo, o Santos hoje vê um jovem da base brilhar no gol: João Paulo, 25, saiu de terceiro goleiro a titular em pouco tempo. Isso porque Everson entrou na Justiça contra o clube e Vladimir se machucou. Assumiu a titularidade, teve boas atuações e não perdeu mais a posição mesmo com a volta dos dois concorrentes.

“Fico feliz pela sequência. Confesso que quando o ano começou, não esperava tudo isso. Estou preparado, feliz por mostrar meu trabalho e tenho certeza de que tem muita coisa para vir”, disse João Paulo, que tem a companhia de jogadores ainda mais jovens que vêm sendo utilizados por Cuca como o zagueiro Alex, o volante Ivonei, o meia Lucas Lourenço e os atacantes Kaio Jorge, Tailson e Marcos Leonardo.

No Corinthians, apesar de a diretoria ter investido em um elenco jovem de olho nas próximas temporadas, são poucos os atletas formados na base do clube. Além dos veteranos Fagner e Jô, que são “filhos do Terrão”, mas já passaram por clubes estrangeiros antes de retornar ao Corinthians, o técnico Tiago Nunes tem apenas o lateral-esquerdo Lucas Piton como titular entre os garotos oriundos da base.

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Quarto colocado do Brasileirão, o Vasco sob o comando de Ramon Menezes tem um time mesclado entre experientes e jovens que vêm fazendo a diferença. Os destaques são o meio-campista Andrey, 22, e os atacantes Vinícius, 19, e Thalles Magno, 18. O técnico valorizou ter sido auxiliar técnico antes de ser efetivado em março para saber escalar os jovens na equipe principal. “Já estou no Vasco há um bom tempo, então isso joga a meu favor. Conheço bem as características de cada garoto”.

O Vasco ainda formou o atacante Marrony, que foi vendido ao Atlético-MG em junho por cerca de R$ 20 milhões. Pelo time mineiro, o garoto soma dois gols no Brasileirão.

Também autor de dois gols no campeonato, o atacante Evanilson era a principal promessa da base do Fluminense neste ano. O jogador, 20, porém, o jogador foi vendido para o Porto, de Portugal, e deixa o clube carioca com nove gols em 24 jogos em 2020.

No líder Internacional, quando Bruno Fuchs foi vendido ao CSKA Moscou, da Rússia, Zé Gabriel, 21, assumiu espaço na zaga e deixou o experiente Rodrigo Moledo no banco de reservas. O jovem tem uma curiosidade em sua formação: na base, chegou a ser camisa 10, centroavante e ponta. No profissional, vinha atuando como volante até ser escalado como defensor pelo técnico argentino Eduardo Coudet.

Fonte: D24am