Com tantas incertezas sobre a expectativa da cura para a doença, medicações e as dificuldades para o tratamento do HIV, o preconceito e o estigma sobre a doença ainda são um dos maiores obstáculos de quem convive com o vírus. A reação da sociedade tem um peso de influência quando se trata de testes e a sorologia, o diagnóstico da doença.

Na década de 80,  logo quando a doença causava espanto por ser algo raro, famosos como Cazuza e Brenda Lee,  acabaram servindo de alerta para as gerações atuais. Na época, o desconhecimento e a falta de informação algumas vezes resultava na fala de uma doença que afetava apenas homossexuais.

João Marcos Dutra, 25, acadêmico de serviço social e coordenador da Rede de Jovens Vivendo com HIV/AIDS no Amazonas, há 12 anos vive com o vírus. Ele diz já sofreu com preconceito em um local que não esperava, na universidade, para ele, o combate ao estigma da doença ainda caminha a passos curtos.

“Sofri dentro de uma universidade por causa do preconceito com o vírus, um rapaz cuspiu em mim e disse que eu estava transmitindo HIV, na hora me assustei, pois, eu não o conhecia direito e nesse mesmo dia eu tinha feito uma roda de conversa sobre HIV no local. O combate ao preconceito está na forma inteligente de se combater, cientificamente avançamos, porém socialmente ainda damos passos curtos”, relata.

Mesmo após tantos anos da existência do vírus, parte da população ainda confunde siglas utilizadas para descrever o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), ao de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids). O primeiro caso é sobre a doença de infecção sexualmente transmissível, já a segunda condiz no estágio mais avançado da infecção pelo HIV, quando surgem infecções.

O que é sorofobia ?

Este termo é usado desde os anos 80, quando o HIV/AIDS começou a ter impacto no país, devido ao surgimento de pessoas com HIV.

O termo é em relação a todo e qualquer preconceito atribuído a pessoas soropositivas. Uso de expressões, tratamento e analogias são um dos exemplos de opressão que algumas vezes estão associadas ao fato de ser soropositivo.

 “Não é apenas em dezembro, é o ano inteiro”

O estudante de enfermagem Felipe Medeiros, 30, que há cinco anos convive com o vírus, explicou que quando descobriu a doença não entendia muito bem, após ter passado por preconceito, entrou em um processo de auto aceitação e hoje defende e acolhe por meio de informação quem também vivencia esse momento.

Medeiros reconhece a importância de ser acolhido
Medeiros reconhece a importância de ser acolhido | Foto: Arquivo Pessoal

“No início sentia muita vergonha, não entendia o que acontecia, até passar um tempo e entrar para o ativismo, onde conheci meus direitos como pessoa. Isso leva um tempo, é um processo. Já sofri discriminação, mas eu não entendia, por isso que dou a cara a bater, para que as pessoas não passem pelo mesmo que eu passei no começo, é importante ser acolhido, ser ouvido, e estou com o coração aberto, não é apenas em dezembro, é o ano inteiro”, pontua.

Dados no AM

O Amazonas reduziu o número de diagnósticos do HIV nos oito primeiros meses de 2020, conforme dados do Sistema de Informação e Agravos de Notificação (Sinan Net).

Até agosto de 2020 foram diagnosticados 632 casos de HIV no estado, apenas um sendo criança, em relação a 2019, foram 1.630 casos.

Constrangimento para o tratamento

A maneira como uma pessoa é atendida ou tratada por familiares e amigos pode ser uma das causas para a vergonha de buscar o tratamento. Algumas pessoas que convivem com o vírus iniciam o tratamento, mas por medo ou constrangimento acabam não permanecendo.

A Representante Estadual da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e Aids no Amazonas (RNP- AM), Vanessa Campos, explicou que a discriminação pode influenciar  pessoas com HIV a não procurem por tratamento. “É preciso que cada pessoa rompa com [as barreiras] para fazer a adesão do seu tratamento, é fundamental que os profissionais sejam acolhedores”, pontua.

Crime por Lei

O preconceito contra pessoas que vivem com HIV é tanto que a discriminação foi definida como crime através da Lei n° 12.984, de 2014, e pode levar à prisão por 1 a 4 anos e multa.

Fonte: Em tempo