Em janeiro, o Amazonas estampou a capa dos principais jornais, brasileiros e internacionais, com a crise de saúde provocada pela segunda onda do novo coronavírus. No entanto, além da falta de oxigênio e superlotação nos hospitais de referência para a doença, unidades de saúde que atendem crianças também registram um cenário preocupante.
Uma profissional que preferiu não se identificar, relata como o dia 7 de janeiro ficará marcado para sempre em sua vida. Ela, que atua no Pronto-Socorro da Criança, unidade Zona Oeste, viu uma criança de oito anos, sem comorbidades, falecer por complicações da Covid-19.
“Naquele dia, essa criança chegou estável na nossa unidade. Em pouco mais de meia hora, o estado dela foi evoluindo com piora. Nós enfermeiros e médicos tentamos de tudo, mas o empenho não foi suficiente. Ela teve uma parada cardíaca com reanimação de pelo menos oito ciclos, mas sem resultado. Ver a mãe gritar desesperada me fez chorar naquele momento lamentável”, lembra a enfermeira, que já trabalhava na unidade hospitalar antes do início da pandemia.
A cena tem relação direta com a nova rotina dos profissionais de saúde de unidades que atendem crianças. Durante a segunda onda de Covid-19 no Amazonas, se tornou comum entubar menores de idade que positivam para a doença, e até mesmo os curados, mas com sequelas.
“Ouvimos muito falar sobre os hospitais para adultos que estão lotados, mas a pediatria também tem sofrido com a alta demanda”, comenta a enfermeira.
No Pronto-Socorro da Criança Zona Oeste, onde ela trabalha, a nova onda de Covid-19 alterou até mesmo o funcionamento padrão do local. A enfermaria, que antes era onde recém-nascidos com diferentes patologias eram tratados, agora se tornou uma ‘ala covid’ infantil. Em um caminho parecido, o setor de reanimação se transformou em sala rosa, enquanto a ‘observação’ virou sala para pacientes de doenças respiratórias, onde se avalia quais são por coronavírus.
“Hoje, em todo plantão recebemos pacientes crianças em estado grave por causa da Covid-19, inclusive com necessidade de ventilação mecânica e internação em UTI. E são de bebês com dois meses a adolescentes de 16 anos”, afirma a enfermeira do PS da Criança.
Uma técnica em enfermagem da mesma unidade hospitalar, que também preferiu não se identificar, fez um desabafo. “Não vejo divulgarem [na mídia], mas a gente tem casos de criança bem grave aqui. Além disso, os sintomas não são apenas os mesmos da primeira onda, tem muito problema intestinal, o que nos faz confundir até com gripe suína [H1N1]”, disse a profissional, ao EM TEMPO.
A mudança de cenário não é exclusiva da capital. Em Ipixuna (1364 km de Manaus), todos os dez pacientes internados por Covid-19 eram crianças, até esta quarta (27), no município. Segundo o site A Crítica, um médico pediatra precisou ser encaminhado para a cidade, pela primeira vez, a fim de atender os pacientes.
Dados confirmam cenário
Além do relato dos profissionais de saúde, a própria Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM) registrou alta de hospitalizações em janeiro, assim como recordes de novos casos. Os dados são do Sistema de Monitoramento da Covid-19 em crianças e adolescentes.
Segundo a plataforma, até o dia 27 de janeiro, havia 1.398 crianças e adolescentes internados, com idade entre 0 e 19 anos, no Amazonas. Deste total, mais da metade dos pacientes (742) tinha menos de seis anos.
Além disso, dados mostram que o sistema de saúde do Estado observou um pico de novas hospitalizações pela doença entre 26 de dezembro e 10 de janeiro, período em que se pôde observar as consequências das aglomerações nas festas de fim de ano. A média móvel de internações, que era de 2,0 no primeiro dia que se observou a alta, chegou a alcançar 4,9 no dia 11 de janeiro, ou seja, mais do que dobrou. Os dados são referentes a crianças de 0 a seis anos.
Fonte: Em Tempo






