O Amazonas tem taxa de casos de câncer de colo de útero 102,3% maior que a média brasileira, conforme dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) repassados ao EM TEMPO. A estimativa é de 700 novos casos para 2021. Além disso, quase metade das mulheres não fizeram uma consulta de rotina ao ginecologista em 2020. O desafio da saúde pública e privada é conscientizar amazonenses sobre a importância de se prevenir o quanto antes.

De acordo com o Inca, para cada 100 mil mulheres, a taxa bruta de casos no Brasil é de 16,35 e 33,08 no Amazonas. O número é ainda maior em Manaus, com 51,94 para a mesma proporção de mulheres. A estimativa de novos casos de câncer do colo do útero para a capital amazonense em 2021 é de 580.

De acordo com o diretor-presidente da Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon), mastologista Gerson Mourão, neste mês de março, o movimento é voltado para incentivar as mulheres a realizarem os exames preventivos (Papanicolau) de forma regular, estimular mulheres e homens a utilizarem preservativo nas relações sexuais e alertar pais e mães a vacinarem seus filhos contra o Papilomavírus humano (HPV).

“O ‘Março Lilás’ é um mês de um enorme significado para o nosso estado, porque é nesse momento que nós alertamos toda a nossa população feminina em relação ao câncer mais devastador pra elas, que é o câncer do colo do útero”, destaca Gerson Mourão.

Mulheres não fizeram consulta de rotina

Um estudo da A.C.Camargo Cancer Center revelou que quase metade das mulheres não passaram por uma consulta de rotina ao ginecologista em 2020; metade delas (50,1%) não sabem ou dizem ser falso que o câncer de colo do útero é um dos tipos de câncer mais fáceis de serem evitados; uma entre quatro desconhecem o HPV como principal causa; e os principais motivos para a não realização do exame papanicolau periodicamente são o exame ser desconfortável e o medo da dor.

“A gente não quer ter diagnóstico de câncer, mas se é pra ter, se é pra ser feito um diagnóstico, o melhor é realmente o diagnóstico precoce, em que a chance de curabilidade e menor risco de mutilações e efeitos de longo prazo é menor, obviamente”, relata a médica Andréa Gadêlha, oncologista clínica, do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica (IUCR) e do centro de estudos e tratamento A.C.Camargo Cancer Center.

O câncer de colo de útero tem sido um dos tumores mais presentes entre as mulheres, principalmente nos países em desenvolvimento e subdesenvolvidos. No Brasil, na região Norte, sua incidência é muito alta, por exemplo. “É importante lembrar que é um tumor prevenível e curável, desde que seja diagnosticado numa fase precoce”, diz ela.

Fatores de risco

O principal fator de risco do câncer do colo do útero é infecção pelo HPV, que pode ser contraída em relações sexuais sem proteção. “Por isso, a campanha de vacinação [contra o HPV] é tão importante”, disse chefe do Hospital do Câncer II, unidade do Inca que trata de cânceres ginecológicos, Daniel Fernandes, ao destacar que Brasil já tem a vacina contra o HPV, embora ainda não seja grande adesão à vacina – o Ministério da Saúde implementou a tetravalente contra o HPV para meninas de 9 a 13 anos no calendário vacinal em 2014.

A partir de 2017, o ministério estendeu a recomendação para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos. A vacina protege contra os tipos 6, 11, 16 e 18 do HPV. Os dois primeiros tipos causam verrugas genitais e os dois últimos são responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer do colo do útero.

Superação

Grávida após câncer de colo do útero, a auxiliar administrativo Rosangela Silva foi acometida por um câncer de colo do útero, proveniente de papiloma vírus humano (HPV). Ela descobriu a doença aos 20 anos, durante o pós-parto de seu primeiro filho.

Após ser feita biópsia, foi indicada a necessidade de ser realizada uma cirurgia. “A orientação era de remover todo o colo do útero. Mas a médica teve a sensibilidade de ver que eu era uma menina de 20 anos, que havia perdido um filho recentemente e escolheu por intervenções chamadas de conizações.”

Segundo Rosangela, tais cirurgias foram possíveis porque os tumores tinham a característica de serem profundos e estreitos. “Assim sendo, houve a chance de se extrair só os tumores, sem remover todo o colo do útero”.

Com o passar do tratamento, a possibilidade de ter mais um filho apareceu. Com 30 semanas de gestação, Rosangela deu à luz a sua filha, hoje com sete anos. “Minha filha é meu tesouro. É o que tenho de mais precioso. Passar por toda essa experiência e vê-la bem, com uma saúde de ferro, é a recompensa de ter vencido a doença.”

Fonte: Em tempo