A articulação do Palácio do Planalto para blindar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na CPI da Covid se tornou palco de disputa entre ministros palacianos. Além disso, senadores governistas têm ficado desabastecidos de informações para usar como arma contra a maioria do colegiado.

Apesar de a coleta e tabulação de dados estar mobilizando servidores de Casa Civil, Secretaria de Governo, Secretaria-Geral e Secom (Secretaria de Comunicação), senadores se queixam de não estarem sendo municiados com dados para atuar nas sessões da comissão parlamentar de inquérito.

Por enquanto, o senador Marcos Rogério (DEM-RO) minimiza a relevância da falta de dados. “Até agora, não foram encaminhadas informações porque não começou [a fase de depoimentos]. O governo tem que estar pronto para levantar informações e entregar. Se agiu corretamente, não há o que temer.”

Um outro integrante da tropa de choque de Bolsonaro na CPI disse reservadamente à reportagem que a ausência do governo vem desde o início, quando da indicação dos membros pelos partidos que deixou a defesa do Executivo com apenas 4 das 11 vagas de titular na comissão.

Um parlamentar disse que ainda não ocorreu uma reunião entre todos os senadores governistas da CPI e os ministros palacianos, apenas conversas individuais, enquanto a maioria crítica ao governo na comissão faz encontros frequentes —na quinta-feira (29), por exemplo, ocorreu um no apartamento do senador Eduardo Braga (MDB-AM).

Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Assessores da Secretaria de Governo e ministros têm procurado os senadores para se colocar à disposição, mas também há relatos de ruídos provocados pela disputa entre os ministros Onyx Lorenzoni (Secretaria-Geral) e Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil).

A relação dos dois não é boa desde o início do ano passado. Auxiliares civis do presidente atribuem ao general Ramos, então titular da Secretaria de Governo, a saída de Onyx da Casa Civil no início de 2020.

À época, a Casa Civil foi ocupada por um militar, o general Walter Braga Netto, agora titular do Ministério da Defesa.

No fim de fevereiro deste ano, Onyx foi empossado ministro da Secretaria-Geral. Ao retornar a um gabinete no Planalto, ficou evidente para servidores que a mágoa com Ramos ainda não foi sanada, e os dois travam uma disputa de poder e influência.

Alheia à briga, está a ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, estreante no Executivo que, até a semana passada, trabalhava na costura de um acordo entre o Congresso e Bolsonaro que permitisse a sanção do Orçamento 2021.

Fonte: Folha de SP