Em depoimento à CPI da covid, nesta terça-feira (22), o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) sugeriu que Manaus “experimentou em algum momento” a imunidade de rebanho para a covid-19 (coronavírus).

A afirmação foi criticada por diversos senadores, entre os quais o relator da CPI, Renan Calheiros (AL), do mesmo partido do deputado.

Imunidade de rebanho ou coletiva é atingida quando um número suficiente de pessoas fica imune pela contaminação natural ou vacinação, interrompendo a transmissão comunitária do vírus.

“Diferentemente do que ouvimos, o lockdown não piora a contaminação. Como aqui foi dito também, em Manaus não houve imunidade de rebanho, os dados mostram exatamente isso”, disse o relator rebatendo Terra.

Na posse de um gráfico sobre o índice da doença no Amazonas, o deputado disse que após o primeiro pico (abril do ano passado) da doença em Manaus houve uma redução de contaminação com índice chegando a zero e ficando por seis meses.

“Isso significa que, de alguma maneira, tem uma imunidade aqui na população. As aulas reabrem, o comércio reabre e tal. Depois tem o surto (…) Olhem a Inglaterra, o Reino Unido: a mesma coisa”, afirmou.

De acordo com ele, em Manaus, assim como em topo o país, o segundo pico da doença foi maior que o primeiro.

“Então, isso é uma regra do vírus. Esse vírus tem esse padrão, conseguiu desenvolver cepas ultrainfectantes”, disse.

O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD), criticou os dados apresentados pelo ex-ministro de Bolsonaro.

“A partir de março, não tinha nenhuma escola funcionando, deputado, nenhuma! Foi quando a gente teve a primeira onda e, depois, com o tempo, com as medidas adotadas, a gente diminui”, lembrou.

Disse que após o Natal, o governador decretou lockdown porque já existia um indício muito grande de uma nova onda.

“E aí houve uma movimentação nacional, postagens de aliados do presidente, pressionaram o governo, e ele, infelizmente, recuou do lockdown”, criticou Aziz.

413 mortes por semana

O senador Humberto Costa (PT-PE), ex-ministro da Saúde, também criticou o deputado e lembrou que o pico da primeira onda em Manaus foi em abril e continuou nos meses seguintes.

“Chegamos a 11.758 casos e 413 óbitos em uma semana. Isso no mês de maio. Passou o processo, mas a quantidade de pessoas acometidas pela doença continuou: 4,5 mil casos, 100 óbitos por semana”,

“Nós ouvimos aqui o secretário de Saúde dizer que em setembro já estava começando a haver um processo atípico de aumento do número de casos, ele falou, inclusive, nas classes médias altas”, afirmou.

Variante P1

O senador Otto Alencar (PSD-BA) também criticou a fala do deputado culpando a variante P1 de Manaus como responsável pelo aumento de casos de mortes no país.

“Não foi isso. Quando surgiu a P1 em Manaus, deputado Osmar Terra, nós já tínhamos mais de 320 mil óbitos, mais ou menos isso; foi em fevereiro. A P1 surgiu no dia 17 de fevereiro de 2021. O Brasil já tinha mais de 300 mil óbitos; foi quando surgiu a P1 lá em Manaus”, destacou o senador baiano.

“O senhor falou que depois das variantes é que se perdeu o controle. Não, não foi isso, não! O controle da doença se perdeu por aquilo que nós vimos aqui, o senhor falando em imunidade de rebanho por contaminação”, completou.