Brasil – A Procuradoria da República do Distrito Federal decidiu investigar a suposta atuação da primeira-dama Michelle Bolsonaro para favorecer empresas de amigos com empréstimos da Caixa Econômica Federal, informou nesta sexta-feira (1) a revista “Crusoé”.

A publicação obteve e-mails e documentos de indicados a receber o financiamento. A primeira-dama teria feito gestões junto ao presidente da Caixa, Pedro Guimarães, a fim de obter a liberação dos empréstimos para comerciantes e pequenos empresários do setor de serviços.

Um dos e-mails, de uma assessora, enviava à Caixa os documentos dos contemplados. “A pedido da sra. Michelle Bolsonaro e conforme conversa telefônica entre ela e o presidente Pedro, encaminhamos os documentos dos microempresários de Brasília que têm buscado crédito a juros baixos”, dizia a mensagem, de maio passado.

No mesmo mês, em meio à pandemia de Covid-19, pequenas empresas em crise se queixavam da dificuldade para obter acesso a linhas de crédito oficiais, como a do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), como recurso para impedir o fechamento dos negócios.

A assessoria da Caixa Econômica Federal divilgou a seguinte nota:

“A Caixa informa que a concessão de crédito para empresas via Pronampe exige enquadramento prévio pela Receita Federal do Brasil e rigorosa análise de riscos do banco, que ocorre mediante processo totalmente automatizado, independente e sem interação humana. Até o momento, a Caixa concedeu empréstimos via Pronampe para mais de 240 mil Micro e Pequenas Empresas (MPE), todos eles obedecendo o mesmo procedimento interno.”

A apuração do caso deverá ser feita no inquérito que, entre outros pontos, investiga a suposta pressão política de Guimarães sobre a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) a fim de impedir a entidade a aderir a um manifesto organizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) (vídeo acima).

O texto pedia “harmonia e colaboração” entre os poderes da República e foi entendido dentro do governo como um ataque ao presidente Jair Bolsonaro.

Nesta quinta-feira (30), a Febraban confirmou ao Ministério Público Federal que Guimarães ameaçou retirar o banco da entidade se fosse mantido o apoio ao manifesto (vídeo abaixo).

Repercussão

O suposto favorecimento a amigos da primeira-dama teve repercussão negativa entre parlamentares e partidos de diferentes posições ideológicas nesta sexta.

O líder da Minoria na Câmara, deputado Marcelo Freixo (PSB-RJ), anunciou que os partidos de oposição (PT, PSB, PDT, PSOL, PCdoB e Rede) acionaram o Ministério Público Federal para pedir que Michelle Bolsonaro seja investigada por tráfico de influência.

A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), anunciou que pediu esclarecimentos ao ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre a liberação dos empréstimos pela Caixa. A bancada do partido Novo na Câmara também disse ter feito requerimento semelhante ao Ministério da Economia.

“Acabamos de protocolar na Câmara pedido de explicações ao ministro Guedes e ao presidente de Caixa sobre crédito facilitado pra empresários amigos por intermédio de Michelle Bolsonaro. Essa família é assim, mamata para os seus”, escreveu Gleisi em uma rede social.

O partido Novo também se manifestou em rede social: “Para o Novo, a intermediação é imoral e ilegal. Por isso, cobra do ministério cópias dos e-mails e contratos com as empresas beneficiadas e respostas quanto aos critérios que fundamentam a concessão de crédito”.