Ana Maria Ramos Estevão, professora universitária e ex-colega de cela de Dilma Rousseff no presídio Tiradentes, em São Paulo, entre 1970 e 1971, veio a público através do livro “Torre das Guerreiras e Outras Memórias”, lançado pela editora 106, expor um relato pessoal de perseguições, companheirismo na cadeia e torturas que viveu durante o regime militar.

Segundo a Folha de S.Paulo, naquela época, Ana Maria atuava no movimento estudantil, no apoio logístico a integrantes da ALN (Ação Libertadora Nacional), um dos principais grupos da luta armada no período.

Em uma parte da obra, a autora diz que sofreu choques elétricos por períodos em que não consegue dimensionar por ter perdido a noção de tempo. “Deus não existe na tortura, ficamos sós, completamente. Solidão pior que a da morte.”

Dilma é citada em alguns momentos do livro. A ex-presidente é descrita como estudiosa e bem humorada. “Seu tom de voz era invariavelmente professoral e de comando, mesmo quando a gente não estava discutindo política.”

No prefácio, Dilma afirma que a ex-colega conseguiu encontrar pequenas alegrias e motivos para acreditar na humanidade “quando a rotina era a banalidade do mal”.

O vínculo formado com as companheiras foi tal que, diz a autora, em “ironia das ironias”, ela se sentia protegida e feliz na cadeia. Uma das colegas se tornaria sua orientadora em mestrado na USP.

Parte do relato também analisa as sequelas das situações dramáticas que viveu. Conta a autora que sofria “ataques de mudez” e que por anos rejeitava ter qualquer conversa sobre política. “Uma dor congelada e não enfrentada permanece doendo”, diz no livro.