Por William Gaspar – Por anos, após o hiato deixado pela saga do “Cavaleiro das Trevas”, deixado por Nolan, os fãs do Batman aguardaram por uma adaptação digna do herói. Pois esse dia chegou e nos apresentou o Batman mais próximo do original já feito. O novo reboot foi alvo de muitas críticas, principalmente pela escolha de Robet Pattinson (confesso que tive um pé atrás) como intérprete do cavaleiro mais famoso da história do cinema, e chega como um dos longas mais aguardados do ano e não é para menos. Fazia um bom tempo que fãs e entusiastas da série esperavam uma produção que tirasse o fôlego e entregasse uma experiência digna de verdade.

Para quem esperava mais um filme do bem contra o mal, com um Batman invencível, cheio de clichês prontos, e até mesmo que lembrasse o Edward brilhando ao sol, vai se surpreender (assim como um grande amigo meu que com certeza tinha isso em mente). The Batman é um filme de super-herói, mas sem ser. Ele é denso, sombrio, com a representação de uma Gotham City caótica, mas não caricata, e um Batman nunca visto antes no cinema, recluso, descontrolado, vingativo, mas acima de tudo humano.

The Batman começa no segundo ano de atuação do vigilante na escura e assustadora Gotham City, mais precisamente em uma chuvosa noite de Halloween, uma referência bem-vinda a “O Longo Dia das Bruxas”, que se prolonga durante o filme, onde a narração do próprio Cavaleiro das Trevas faz a contextualização dos fatos. Nesse cenário, o Batman já é uma figura conhecida na cidade, conta com o auxílio de seu mordomo Alfred, o único a saber da sua identidade secreta, e trabalha com o apoio de Jim Gordon, que ainda não se tornou comissário, fato que desagrada os corruptos da polícia local.

De maneiras muito mais perturbadoras do que a maioria do público poderia esperar, The Batman canaliza os medos e frustrações do nosso clima político atual, apresentando uma saga de crime carnuda e completa que mistura elementos do clássico filme de gângster com comentários de ponta sobre os desafios enfrentados o mundo moderno. É um filme extremamente ambicioso e forte o suficiente para funcionar mesmo sem a presença de Batman, não que tenha alguma razão para existir sem ele.

O filme é sombrio, sem dúvida. Ainda mais sombrio do que a já sombria trilogia do Nolan. Você pode ter pensado que o Batman não poderia ficar mais sombrio, mas estaria errado: o Coringa de Heath Ledger em ‘O Cavaleiro das Trevas’ costurou um telefone no abdômen de um cara em 2008 para que o Charada de Paul Dano pudesse alimentar o abdômen de outro cara para um gaiola cheia de ratos em 2022. Este é um filme do Batman reimaginado como um terrível filme de serial killer, só que desta vez não é apenas o serial killer que aparece nas sombras, observando sua presa e esperando para atacar; o herói também.

Elenco

Pattinson é uma escolha inspirada para trazer esta versão psicologicamente abalada do personagem. O Bruce Wayne dele não usa sua figura pública de bilionário e filantropo para esconder seu alter-ego noturno. Pelo contrário, ele é uma figura reclusa e sombria em Gotham City. O ator sofreu críticas severas, que questionavam até mesmo o seu físico, além da sua capacidade de fazer um Batman crível, mas a verdade é apenas uma: o Batman de Pattinson brilha, mas não é no Sol. Afinal nem tem Sol, é Gotham! (me perdoem fãs de Crepúsculo rsrsrsr).
Inexperiente, traumatizado e algumas vezes descontrolado, o Batman lida com suas questões psicológicas ao longo da trama enquanto enfrenta uma gama de vilões já conhecidos do público.

Quanto a Dano, seu Charada é facilmente o melhor vilão do Batman em live-action desde o Coringa de Heath Ledger. Com cara de “Silencio”, deram a ele um toque moderno e assassino que é fortemente influenciado pelo assassino do zodíaco do mundo real. Dano afunda neste assassino desequilibrado, mas genial, com um realismo aterrorizante. Sério, Dano conseguiu me dar calafrios com um único movimento de olho em uma cena, com raras exceções quando ele aparentemente se descontrola, o que deixa o personagem um pouco forçado.

Kravitz é linda e ferozmente adorável, uma garota com suas próprias dores e motivações particulares e sem sombra de dúvidas a melhor adaptação da Mulher Gato que os cinemas nos apresentaram até agora. O diretor escolheu uma série de bons atores, entre eles Colin Farrell como o gângster conhecido como Pinguim (não dá pra reconhecer o cara), Jeffrey Wright como o policial de princípios Jim Gordon (a mim pareceu nos carregar nas explicações do filme) e um suavemente sinistro John Turturro (que é um palhaço) como o chefe do crime Carmine Falcone.

Gotham e Batmóvel

Se há algo que encanta no filme é Gotham. A cidade que ele criou é uma maravilha estética para quem acompanha o herói. Com uma fotografia incrível (foi mal Joel, mas é verdade), sua cidade é suja, húmida, mal iluminada e com infraestrutura precária nos subúrbios. O cenário constantemente mescla o moderno com o retrô e dá ainda mais o clima Noir ao filme.

Além disso, há Imagens inesquecíveis como as chamas azuis e ardentes do Batmóvel em uma cena de perseguição eletrizante que literalmente me fez sair poltrona, algo que não acontecia desde a famosa cena de perseguição em Matrix Reloaded.

Precisava?

Por fim, nós realmente precisamos de mais um reboot de “Batman”? A resposta, depois de assistir o tremendo “The Batman”, de Matt Reeves, é aparentemente um retumbante sim. A história do Cavaleiro das Trevas foi contada e recontada tantas vezes que você pode pensar que não há mais nada a ver com esse personagem e, no entanto, Reeves e companhia criaram um épico amplo, sinistro e sonhador; uma mistura de ação-aventura, mistério, horror, noir e até um pouco de romance jogado em boa medida. Houve vários momentos aqui em que tive que parar e me perguntar: “Uau, este é o melhor filme do Batman?” Só pode ser.

The Batman é um filme longo, isso é fato. Mas ao sair da sala de cinema se tem a impressão que viveu tudo o que houve para ser vivido e que as quase três horas do longa valem a pena. A origem do Batman não precisou ser revida, para ser sentida. Ao invés disso, temos a construção da sua personalidade, a sua confusão psicológica e e a virada de chave onde o vigilante coloca finalmente a justiça acima da vingança e deixa de ser apenas um causador de medo e se torna um símbolo de esperança.

Via: Portal do Amazonas