Amazonas – Superando a quantidade de focos dos últimos dois anos no mesmo período, o mês de agosto chega a 30 dias com 30.073 focos de queimadas na Amazônia. O número segue crescendo e bateu recorde no último dia 22, quando em apenas 24 horas foram registrados 3.358 focos de queimadas, mais que o dobro do “dia do fogo” de 2019. Na quarta-feira (24), o número continuou quebrando o recorde de 2019, com 2.475 focos, segundo o satélite de referência do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O Pará segue em primeiro lugar no mês de agosto, com 11.364 focos, seguido do Amazonas, com 7.659, e Mato Grosso, com 5.156. Os municípios que se destacam no estado são: Altamira, São Félix do Xingu, Novo Progresso (PA); Apuí, seguido de Lábrea, Novo Aripuanã e Manicoré (AM); Porto Velho (RO); e Colniza (MT).

“Estamos a um passo bem pequeno ao ponto de não retorno e de vermos a Amazônia deixar de ser o que sempre foi”, alerta o ambientalista e geógrafo Carlos Durigan, diretor da Organização Wildlife Conservation Society (WCS). “O que estamos testemunhando é a destruição em tempo real da Amazônia e sua biodiversidade, dando passagem à apropriação ilícita do território”.

Desde 2012 o cenário de desmatamento na Amazônia Legal voltou a crescer sem parar e manteve-se entre 5.396,54km²  e 7.091,35 km² até 2019, quando saltou para 10.895,26km², alcançando em 2021 um recorde em 13 anos, com 12.415,99 km², segundo a plataforma TerraBrasilis, com dados do Projeto Prodes, pertencente ao Inpe.

“Há uma relação direta dos desmatamentos com as queimadas. Normalmente as áreas são abertas, todas as madeiras nobres são retiradas, isso quando não há um corte raso da vegetação. E então espera-se o momento mais seco para a queima das áreas, para as preparar para o plantio, seja de pasto para gado ou para outra atividade”, explica Heitor Pinheiro, analista do Programa Geopolítica da Conservação da Fundação Vitória Amazônica (FVS). Além desse tipo de desmatamento, Pinheiro cita a queima de roçados e os incêndios acidentais, que são mínimos comparados aos realizados por grileiros.

As terras públicas não destinadas, aquelas que não foram delimitadas como unidade de conservação, Terra Indígena (TI) ou área quilombola, por exemplo, estão no centro do desmatamento na Amazônia entre agosto de 2020 e julho de 2021, correspondendo a 28%, segundo mapeamento do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).

“A Amazônia queima por vários motivos, mas principalmente pelo avanço da fronteira agrícola no sul do estado, no arco do desmatamento. Sabemos que no Mato Grosso e no Pará os índices de desmatamento são altos todos os anos e a última fronteira agrícola é o Amazonas, que vem apresentando dados crescentes de desmatamento e queimadas”, acrescenta Heitor Pinheiro.

Ele destaca os licenciamentos feitos pelos prefeitos, a partir das dinâmicas do agronegócio. Isso acontece, por exemplo, em municípios da boca do Acre, Lábrea, Humaitá, entre outros na região. “E falo que há muitos deputados federais de outros estados colocando gado na Amazônia,  legitimando o desmatamento com discurso da ‘terra é nossa’. Há casos até de prefeituras dando licenças para supressão vegetal [desmatamento legal], que não é atribuição municipal e sim do Estado”, explica o analista.

“A marcha de crescimento do desmatamento e da degradação das florestas na Amazônia é essencialmente criminosa e está ligada diretamente ao avanço da agropecuária sobre terras públicas, sejam elas destinadas a unidades de conservação e terras indígenas e quilombolas sejam elas não destinadas”, ressalta  Durigan.

Fonte: Amazônia Real