Eleições – O governador do Amazonas, Wilson Lima (União), emitiu uma nota pública na noite desta quinta-feira, 27, informando que decidiu evitar a participação no debate da TV Amazonas, filial da Rede Globo, por considerar que o veículo de comunicação dispensa tratamento desigual entre ele e o senador Eduardo Braga (MDB), no segundo turno das eleições.

A alegação do governador foi embasada nas formas de condução das entrevistas realizadas pela TV Amazonas, no programa “JAM 2” (Jornal do Amazonas, 2ª edição), nos dias 17 e 18 de outubro, com Eduardo Braga e Wilson Lima, respectivamente, e que viraram alvo de representação judicial, dada a “falta de isonomia”. Para justificar esse argumento, a defesa de Lima fez estudos matemáticos e de análise de discurso.

Os representantes das duas campanhas eleitorais – de Eduardo Braga e Wilson Lima – assinaram um termo de concordância com as regras da entrevista, sendo que cada candidato seria entrevistado por 15 minutos e teria mais um minuto para suas considerações finais.

Na representação contra a TV Amazonas, que a REVISTA CENARIUM teve acesso, há o conteúdo integral das entrevistas com os dois candidatos no “JAM 2”. Na condução das perguntas, Eduardo Braga sofreu 16 intervenções da entrevistadora, enquanto Wilson Lima, 26, representando um acréscimo de 62%.

Matemática das interrupções

Das perguntas feitas a Eduardo Braga, 19% foram adversariais. Das perguntas feitas a Wilson, 85% tiveram o tom adversarial, significando que o governador foi 733% mais confrontado que o senador do MDB.

Ao comparar o tempo de fala das entrevistas dos dois candidatos, o período em que a apresentadora deixou Eduardo Braga falar foi, em média, 225% maior do que os blocos contínuos de fala permitidos a Wilson Lima.

De acordo com as entrevistas veiculadas no “JAM 2”, da TV Amazonas, as interrupções feitas pela apresentadora a Wilson Lima foram em quantidade 300% do que aquelas feitas a Eduardo Braga.

O tempo de fala da entrevistadora, na conversa com Lima, foi 205% maior do que o tempo de fala da mesma entrevistadora durante a entrevista de Eduardo Braga.

Pelo programa da filial da Rede Globo, a entrevistadora ocupou 42% do tempo integral destinado à entrevista de Wilson Lima, ao passo em que ocupou apenas 20% do tempo destinado à entrevista de Eduardo Braga.

Depois de ter ocupado seis minutos e vinte e dois segundos da entrevista de Wilson Lima, a emissora lhe concedeu um minuto para fazer suas considerações finais, mas interrompeu o candidato quando passado 47 segundos, sob o argumento de que o tempo havia encerrado.

Gráfico analítico das entrevistas

Gráfico apresentado pela defesa de Wilson Lima contra a TV Amazonas (Reprodução)

Perguntas amenas e agressivas

Os advogados de Wilson Lima exemplificaram como outro argumento de tratamento desigual entre ele e Eduardo Braga, na TV Amazonas, o conteúdo das perguntas realizadas pela apresentadora sobre o que ambos poderiam ter feito como governadores e não fizeram, conforme abaixo:

Na ação contra a TV Amazonas, a defesa de Wilson Lima usa, entre os dispositivos jurídicos, os artigos 43 e 45 da Lei N° 9.504/1997, nos quais estão previstas restrições, entre elas, a de que é vedado, às emissoras de rádio e televisão, em sua programação normal e noticiário, dar tratamento privilegiado a candidatos, a partir do dia 6 de agosto da eleição corrente.

Ainda segundo a defesa do governador, a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) entende que atribuir características pejorativas e fazer acusações – mesmo que veladas – a uma candidatura representa o favorecimento de que trata o artigo 45 da Lei 9.504/97.

TV Amazonas contesta

Ao contestar a representação de Wilson Lima sobre o tratamento diferenciado dispensado a Eduardo Braga no programa “JAM 2”, a TV Amazonas alegou que cumpre um dever constitucional de informar e de ser informado, que são espécies do direito de informação assegurado pelo art. 5° da Constituição Federal.

De acordo com a emissora, as perguntas feitas aos candidatos Eduardo Braga e Wilson Lima referem-se às propostas constantes do plano de governo de cada um. “Parece óbvio que a coligação representante, cujo candidato ocupa a governadoria e busca a reeleição, deva responder, inevitavelmente, a muitos pontos de sua administração”, alega a TV Amazonas.

A emissora argumentou, ainda, que a exteriorização de opiniões, por meio da imprensa de radiodifusão sonora, de sons e imagens, sejam elas favoráveis ou desfavoráveis, faz parte do processo democrático e citou Celso de Mello. “O cidadão tem o direito à informação. Por isso, é que o direito de informação, em suma, acaba representando uma verdadeira garantia constitucional da própria opinião pública”.

Lava jato e indicadores

Sob o argumento de informar o cidadão sobre o histórico de gestões dos dois candidatos, a entrevista do “JAM 2” com o senador Eduardo Braga deixou, curiosamente, de abordar fatos que, notadamente, geraram repercussão em sua gestão.

Entre os pontos não questionados pela apresentadora da TV Amazonas, com Braga, estão as delações contra o senador, na operação Lava Jato, envolvendo obras superfaturadas no governo dele, aumento significativo dos registros de homicídios, segundo o Atlas da Violência e, ainda, o baixo desempenho do Amazonas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Fonte: Revista Cenárium