Brasil – A Polícia Federal abriu na manhã desta sexta, 27, a terceira etapa da Operação Lesa Pátria para cumprir 11 ordens de prisão preventiva contra investigados pelos atos golpistas na Praça dos Três Poderes. No dia 8, bolsonaristas radicais invadiram e depredaram as sedes do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Palácio do Planalto. Até a conclusão desta edição, seis alvos haviam sido presos.

Localizados em Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná, Espírito Santo e Goiás, os presos são José Fernando Honorato de Azevedo, Claudio Mazzia, Valfrido Chieppe Dias, Eduardo Antunes Barcelos, Marcelo Eberle Motta e Maria de Fátima Mendonça. Maria de Fátima foi uma das identificadas em levantamento feito pelo Estadão sobre os atos extremistas em Brasília.

Em vídeo, a idosa de 67 anos confirmou que participava da invasão do dia 8 e que ia “pegar o Xandão”, em uma referência ao ministro do Supremo Alexandre de Moraes. “Quebrando tudo e cagando nessa bosta aqui”, declarou Maria de Fátima durante a gravação. Eduardo Barcelos, outro detido ontem, também aparece em vídeo durante a invasão na Praça dos Três Poderes.

Fotografias, vídeos e trocas de mensagens em grupos restritos comprovam que os ataques do dia 8 por extremistas foi um ato premeditado e organizado, e não uma ação espontânea. O Estadão analisou cerca de 26 horas de transmissões ao vivo, listas de passageiros de ônibus, postagens em redes sociais e centenas de imagens.

Agentes ainda vasculharam 27 endereços no Rio, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Espírito Santo e Distrito Federal. Um dos alvos de buscas foi Leonardo Rodrigues de Jesus, o Léo Índio, primo dos filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro. As defesas dos alvos da operação de ontem não foram localizadas pela reportagem até a publicação deste texto.

Crimes

A ofensiva de ontem mira suspeitas de crimes de abolição violenta do estado democrático de direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime e destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido.

As ordens cumpridas na terceira fase da Operação Lesa Pátria partiram do Supremo, cuja sede foi um dos alvos dos bolsonaristas no dia 8 de janeiro. A PF abriu um canal para tentar identificar pessoas ligadas à ofensiva violenta.

A Lesa Pátria foi inicialmente aberta na semana passada, quando agentes foram às ruas para prender preventivamente oito investigados sob suspeita de participarem, financiarem ou fomentarem os atos.

Na ocasião, cinco investigados foram detidos, entre eles “Ramiro dos Caminhoneiros”, Randolfo Antonio Dias, Renan Silva Sena e Soraia Baccio. Durante as diligências da primeira fase da Operação Lesa Pátria, a PF apreendeu mais de R$ 20 mil na residência de um dos investigados.

Nesta semana, policiais federais também prenderam Antônio Cláudio Alves Ferreira, que derrubou o relógio de pêndulo de d. João VI ao invadir o Planalto. Ele foi encontrado em Uberlândia, no interior de Minas, na terça-feira, 24.

Denúncias

Até o momento, 103 investigados já foram denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo por envolvimento nos atos golpistas. Caberá, agora, à Corte decidir se aceita as denúncias e abre ações penais contra os acusados por crimes como golpe de Estado, associação criminosa armada e tentativa de abolir o estado democrático de direito.

As cotas são assinadas pelo subprocurador-geral da República Carlos Frederico Santos, chefe do Grupo Estratégico de Combate aos Atos Antidemocráticos, criado na PGR para coordenar as investigações sobre os atos de vandalismo na capital federal. Além de condenação, ele pede que os denunciados sejam obrigados a pagar indenização por danos morais coletivos à sociedade.

O subprocurador indicou que as investigações continuam e novas cotas poderão ser oferecidas, inclusive contra já denunciados. “Não há arquivamento explícito ou implícito em relação a nenhum outro potencial crime que possa ter sido cometido pelos denunciados”, disse Santos.

Santos pede que o Supremo autorize o interrogatório das testemunhas em blocos de 30 pessoas, como forma de agilizar o trabalho.

Sobrinho de Bolsonaro

Um dos alvos da terceira fase da Operação Lesa Pátria é Leonardo Rodrigues de Jesus, o Léo Índio, sobrinho de Jair Bolsonaro e primo próximo dos filhos do ex-presidente da República. Ele foi alvo de mandado de busca e apreensão, sob suspeita de envolvimentos nos ataques do dia 8 de janeiro, em Brasília.

Léo Índio tem 39 anos e foi candidato a deputado distrital pelo PL nas eleições de 2022, mas não se elegeu. Ele obteve 1.801 votos e ficou na 167.ª posição pelo cargo. Em seu nome de urna, ele adotou o sobrenome da família do ex-presidente e se identificou como “Léo Índio Bolsonaro”.

Ele tem proximidade com os filhos do ex-presidente, especialmente com o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). Nas redes sociais, Léo Índio tem fotos com o parlamentar passeando em Buenos Aires e andando de bicicleta no Rio. Ele ainda tem foto posando ao lado do ex-presidente.

No dia dos ataques às sedes dos três Poderes, Léo Índio fez publicações nas redes sociais. Ele postou imagens participando dos atos extremistas, mas se disse contra atos de vandalismo e violência e atribui a depredação de prédios públicos a grupos da esquerda.

Esquerda

“Não sou a favor do vandalismo, o acampamento da direita estava instalado no QGex (Quartel-General do Exército) há 70 dias sem alterações, por que iriam estragar tudo? Quem tem histórico de destruir patrimônio público é a esquerda”, afirmou.

Em 2019, Léo Índio ganhou um cargo de confiança no Senado e foi nomeado assessor parlamentar do senador Chico Rodrigues (RR), à época filiado ao extinto DEM. Mesmo sem cargo no Palácio do Planalto, ele tinha livre trânsito no edifício no início do governo Bolsonaro. Era comum vê-lo em reuniões internas e agendas externas do então presidente.

Presença

Como mostrou o Estadão, ele esteve no Planalto 58 vezes só nos primeiros 45 dias de governo Bolsonaro. Léo Índio foi ativo também na campanha pela reeleição do ex-presidente em 2022. Ele publicou diversos vídeos pedindo voto em Bolsonaro, além de peças de sua própria campanha. Em uma outra publicação, ele também aparece pedindo votos para a ex-ministra-chefe da Secretaria de Governo Flávia Arruda, derrotada na disputa pelo Senado do ano passado.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.