Brasil – Pouco antes de invadir o gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no Palácio do Planalto, em 8 de janeiro, um apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) exigiu que um repórter fotográfico fizesse imagens do momento em que iria arrombar a porta do local. É possível acompanhar esse momento nas novas imagens das câmeras de segurança do Planalto tornadas públicas pelo Supremo Tribunal Federal neste final de semana após pedido de Ricardo Cappelli, o ministro-chefe interino do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

No vídeo, é possível observar que o bolsonarista só desfere o golpe na porta de entrada do gabinete após se certificar que o fotógrafo da agência Reuters faria a foto.

Paralelamente à vontade de serem filmados e fotografados, os invasores também aparecem intimidando o profissional. Entre as cenas que sugerem a intimidação, conferem o seu crachá. Diversas agressões a jornalistas foram registradas na data, entre elas a do fotojornalista Pedro Ladeira, da Folha. Os apoiadores de Jair Bolsonaro roubaram seu equipamento após agredi-lo.

Os bolsonaristas chegaram ao gabinete presidencial por volta das 15h20. Às 15h26 já haviam arrombado a porta e adentrado a antessala. Instantaneamente, uma fumaça surge dentro do local e os golpistas colocam bandeiras e quaisquer panos disponíveis para proteger o rosto. Às 15h56 foi a vez de ser arrombada a porta que separa a antessala do gabinete propriamente dito – é nesse momento que o golpista pede para ser fotografado. Quatro tentativas anteriores foram realizadas sem sucesso.

Entre as 16h e as 16h30 as câmeras registraram a maior circulação de bolsonaristas no local. Bolsonaristas usam as tomadas do local para carregarem seus celulares e dão “sumiços” nos dois extintores de incêndio que havia ali. Um homem pede a ajuda de outro bolsonarista – que fazia selfies no gabinete – para retirar uma mangueira anti-incêndio. Juntos, destroem o equipamento e molham todo o gabinete.

O ex-ministro-chefe do GSI, Gonçalves Dias, que foi flagrado pelas câmeras na data, retirou os bolsonaristas do gabinete e consequentemente do terceiro andar. Ele ainda afirmou ter testemunhado a quebra dos vidros do gabinete e outros atos de vandalismo. Gonçalves Dias chegou ao gabinete às 16h29 e retirou os invasores. Os últimos bolsonaristas deixaram o gabinete 2 minutos depois, às 16h31.

A Polícia Militar do Distrito Federal só chegaria ao gabinete presidencial às 16h40, 9 minutos após Gonçalves Dias retirar os últimos bolsonaristas. 20 minutos antes, PMs e agentes do GSI apenas observavam a baderna. O acesso ao gabinete foi finalmente fechado às 17h11 e a área terminou de ser isolada às 20h20.

As novas imagens e a invasão do gabinete

A íntegra das imagens das câmeras de segurança do Palácio do Planalto, divulgadas neste domingo (23), mostram que o Gabinete do presidente Lula (PT), localizado no terceiro andar do prédio, esteve invadido por delinquentes bolsonaristas durante cerca de 1 hora no último dia 8 de janeiro.

As imagens, que somam mais 900 horas de gravações da data, feitas a partir de 33 câmeras, foram liberadas ao público pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) a pedido de Ricardo Cappelli, o ministro-chefe interino do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). De acordo com o jornal O Globo, que foi o primeiro a analisar as imagens, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estiveram tanto na antessala como no próprio gabinete da Presidência sem encontrarem qualquer resistência por parte das forças de segurança.

Após a divulgação de uma edição das mesmas imagens pela CNN na última semana, o general foi questionado sobre sua participação e em seguida pediu demissão do cargo. Cappelli, que o substitui de forma interina, acredita que a divulgação da íntegra das imagens provará que houve, por parte da CNN, a intenção de prejudicar Gonçalves Dias e o governo Lula, fornecendo uma falsa prova para os bolsonaristas que defendem a tese esdrúxula de que o 8 de janeiro teria sido orquestrado pelo próprio governo Lula.

Fonte: Revista Fórum