Brasil – “O enterro da vereadora será no Caju, mas a comemoração, alguém sabe onde será?” Essa foi uma das frases escritas pelo delegado Maurício Demétrio após o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.

A declaração é citada na decisão do juiz Bruno Rulière, responsável pelo processo contra o policial civil na 1ª Vara Especializada em Organização Criminosa da Comarca da Capital, no Rio de Janeiro, que condenou o investigador por obstrução de Justiça, com a perda da função pública.

A conversa foi extraída de um dos 12 celulares apreendidos em junho de 2021, no apartamento do delegado, quando ele foi preso. Demétrio teria ironizado a morte da vereadora Marielle Franco, um dia após o assassinato brutal da parlamentar.

“Manifestações inaceitáveis” do delegado

De acordo com o magistrado, os celulares apresentaram “manifestações inaceitáveis”. Outra frase relatada na decisão de Rulière, considerada inapropriada, é a referência dele à delegada Adriana Belém, chamada de “macaca”. “Refere-se de forma racista a uma delegada, chamando-a de ‘macaca escrota’ e ‘crioula’”, diz o juiz.

Nas duas situações, que se passam em 2018, o interlocutor de Demétrio é o delegado Allan Turnowski — que, na época, ocupava um cargo de diretoria na Cedae. Na conversa sobre Marielle, Turnowski responde com três emojis de espanto.

Já sobre o tratamento racista contra Belém, o delegado e ex-secretário da Polícia Civil posta um ponto de interrogação, como se não entendesse o motivo da expressão preconceituosa usada por Demétrio, ao citar a colega.

De acordo com o magistrado, o réu aparenta querer prejudicar a delegada e pede: “Me arruma um print da Belém fazendo campanha pro Paes. Urgente. Postando coisa (sic)”. Demétrio responde: “Falta grave. Pôr essa macaca na rua. Fazendo hora extra. Aqui, crioula escrota”. Segundo o processo, Demétrio referia-se ao fato de a delegada já estar há muito tempo na Polícia Civil, na opinião dele.

Ainda conforme a decisão, há outras evidências de racismo por parte do delegado. Em outra conversa, Demétrio descreve o Brasil como “macacolândia”.

Diz ele: “Muito interessante. Aqui vemos o real sobre human and civil rights (direitos humanos e civil). O discurso patético e esquerdista que vemos em macacolândia, é apenas um folhetim ridículo das viúvas de Fidel e de Chaves (referindo-se ao comunismo dos ex-presidentes Fidel Castro, de Cuba; e Hugo Chaves, da Venezuela)”.
Condenação

Maurício Demétrio foi condenado a 9 anos de prisão por três crimes de obstrução à Justiça – embaraço à investigação penal que apura organização criminosa.

A conduta racista também pesou na decisão, que determinou ainda a perda de cargo de delegado de Polícia Civil e ordenou que o dinheiro arrecadado com a venda dos veículos importados do réu fique nos cofres do estado, resguardando apenas eventual direito de vítimas.

Como houve um desmembramento da ação penal, os outros crimes como organização criminosa, concussões e lavagem de dinheiro ainda serão julgados. Demétrio é apontado como chefe do bando formado por policiais civis de sua confiança, peritos, advogados e comerciantes.

Segundo a denúncia do Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio (MPRJ), a formação do grupo ocorreu dentro da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM), desde 2018.

O delegado Mauricio Demétrio estava há mais de 20 anos na polícia e já passou por diversas delegacias, quase todas especializadas — delegacias do Meio Ambiente (DPMA), do Consumidor (Decon), de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA) e de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM).

Foi nesta última que, segundo o MPRJ, Demétrio usava a estrutura da instituição para negociar e cobrar propina de comerciantes da Rua Teresa, em Petrópolis, na Região Serrana. Ele está preso desde junho de 2021.

Fonte: Metrópoles