Cerca de 2 milhões de pessoas em Manaus, uma das principais capitais do Norte do Brasil, vivem praticamente isoladas por via terrestre. A única rodovia que conecta a cidade ao restante do país, a BR-319, que se estende até Porto Velho (RO), está aguardando asfaltamento há 52 anos. Disputas judiciais e ambientais devem adiar uma solução definitiva para a “rodovia da lama” até após 2026, quando o terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá terminado.

Iniciada em 1968 e inaugurada em 1972, a BR-319 prometia um deslocamento de 12 horas, menos que as 15 horas atuais para percorrer seus quase 900 quilômetros. Em 2001, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), partes da rodovia foram asfaltadas: 58 km a partir de Porto Velho e 100 km a partir de Manaus. O trecho intermediário, conhecido como “Trecho do Meio”, continua sendo alvo de disputas ambientais e judiciais.

Em 2022, o Ibama emitiu uma licença prévia para a obra, resultado de um acordo entre o Dnit e o TCU. No entanto, em 25 de julho de 2024, a Justiça do Amazonas suspendeu a licença, complicando os planos do governo Lula. A administração espera reverter a decisão por meio de recurso.

A pavimentação da BR-319 poderia reduzir significativamente o custo de manutenção da estrada, estimado em R$ 150 milhões anuais. O governo sugere uma parceria público-privada para gerenciar a rodovia, mas há críticas quanto à capacidade de fiscalização ambiental de empresas privadas.

O Observatório do Clima, que pediu a suspensão da licença, argumenta que as estradas são vetores de desmatamento na Amazônia. A entidade baseou seu pedido em quatro pontos principais:

  1. Falta de governança ambiental e territorial.
  2. Ausência de estudo de impacto climático.
  3. Falta de consulta a povos indígenas e comunidades tradicionais.
  4. Insuficiente fiscalização ambiental.

Suely Araújo, coordenadora do Observatório do Clima, destaca a necessidade de presença estatal efetiva para controlar o desmatamento.

Políticos e empresários locais reclamam do isolamento do Amazonas e defendem a pavimentação da BR-319 como essencial para a integração e desenvolvimento da região.

Apesar do reconhecimento do isolamento da região, o Observatório do Clima adverte que a obra só deve avançar com garantias robustas de governança ambiental. A pavimentação da BR-319 permanece um dilema complexo, refletindo um conflito de interesses que persiste há mais de meio século. A solução parece distante, com Manaus ainda isolada no coração da Amazônia.