O desmatamento da Amazônia impacta o mundo, reduzindo chuvas em várias regiões e contribuindo para o aquecimento global. Embora a perda de cobertura vegetal esteja geralmente ligada à exportação de commodities, um estudo recente revela que o consumo no Brasil, especialmente no Centro-Sul, é um fator importante na destruição do bioma.

O Centro-Sul inclui os estados do Sul e Sudeste, além de Goiás, Mato Grosso do Sul, DF e partes do Tocantins e Mato Grosso. O artigo “Pressões econômicas do desmatamento na Amazônia Legal Brasileira”, publicado na revista Nature Sustainability, aponta que 83,17% do desmatamento foi impulsionado por demandas externas, com 59,68% proveniente de outras partes do Brasil e 23,49% do exterior.

O estudo, liderado pelo professor Eduardo Amaral Haddad da USP, destaca que até agora a literatura focava nas relações comerciais internacionais, mas essa pesquisa quantificou pela primeira vez a influência do consumo interno, principalmente do Centro-Sul, sobre o desmatamento.

Baseada em dados até 2015, a pesquisa revela que, naquele ano, 1,54 milhão de hectares foram desmatados, com 93,4% do desflorestamento atribuído à pecuária, seguida pela agricultura (6,4%) e mineração (0,2%). A demanda por soja e carne é um dos motores desse desmatamento.

Rafael Feltran-Barbieri, do World Resources Institute, ressalta que a pecuária, incluindo carne e laticínios, responde por mais de 90% do desmatamento, e 80% da produção de bovinos na Amazônia é consumida no Brasil.

Embora o consumo interno tenha um grande impacto, a responsabilidade internacional também é significativa. Muitos frigoríficos e varejistas brasileiros têm participação estrangeira, e o mercado internacional intensifica o desmatamento, pois a exportação de commodities é mais destrutiva do que o consumo interno.

O estudo aponta a fragilidade da rastreabilidade dos produtos da Amazônia, o que não só afeta o meio ambiente, mas também gera problemas sanitários e fiscais. Sem rastreamento adequado, há riscos de contaminação e evasão fiscal.

Haddad acredita que os resultados podem aumentar a conscientização entre os consumidores brasileiros sobre sua contribuição para o desmatamento e orientar políticas públicas para combatê-lo. A reforma tributária em discussão no Congresso, que pode isentar impostos sobre produtos agropecuários, pode agravar o problema, visto que esses produtos são grandes responsáveis pela destruição da floresta e emissões de gases do efeito estufa.