
As pesquisas eleitorais nos Estados Unidos apontavam empate entre Donald Trump e Kamala Harris nas vésperas da eleição presidencial de 2024. Contudo, Trump venceu com ampla margem, surpreendendo os analistas. Entre os motivos para o erro dos institutos de pesquisa, especialistas citam o fenômeno do “voto oculto” e a falta de precisão sobre o comportamento do eleitorado, além de incertezas quanto à participação nas urnas.
Gilmar Lucena, coordenador do curso de marketing digital e ciência de dados da Uniceplac, explica que o “voto envergonhado” — ou voto oculto — ocorre principalmente em contextos polarizados, como o atual, em que figuras controversas como Trump podem fazer com que eleitores hesitem em declarar sua verdadeira preferência. Lucena aponta que esse fenômeno distorce os resultados, especialmente entre eleitores conservadores.
Além disso, Lucena destaca outros fatores que podem ter influenciado o erro das pesquisas, como a mudança de comportamento nos últimos dias da campanha, quando muitos eleitores decidem seu voto de última hora. “A alta exposição midiática e os debates constantes podem dificultar a captura desse comportamento pelas pesquisas, que muitas vezes são concluídas antes da eleição”, afirma.
Outro fator que contribui para a imprecisão das pesquisas é a incerteza sobre o comparecimento eleitoral. Nos Estados Unidos, o voto não é obrigatório, o que significa que, mesmo com eleitores registrados, muitos não comparecem às urnas. Lucena ressalta que o engajamento de grupos específicos — como jovens, minorias e eleitores conservadores — pode ser decisivo para o resultado.
O fator dos eleitores não declarados
O internacionalista Emanuel Assis também atribui o erro das pesquisas ao número significativo de eleitores “não declarados”. Segundo ele, muitos eleitores não se identificam abertamente como conservadores, republicanos ou apoiadores de Trump, devido ao estigma que isso carrega. “Esses eleitores não necessariamente se colocam como trumpistas, pois se declarar como conservador nos Estados Unidos pode gerar preconceito”, explica.
Assis ainda destaca a importância do comparecimento às urnas, já que o voto nos Estados Unidos não é obrigatório. “A grande falha da campanha democrata foi não conseguir mobilizar sua base eleitoral para votar”, afirma. Para ele, os republicanos conseguiram engajar mais eleitores e garantir maior presença nas urnas, o que foi decisivo para a vitória de Trump.
Esses elementos ajudam a explicar o erro das pesquisas eleitorais e o desempenho surpreendente de Trump nas urnas, além de ilustrar as complexidades do processo eleitoral nos Estados Unidos.







