Plataformas de apostas on-line, que atraem milhões de brasileiros mensalmente, estão afetando o ambiente de trabalho. Especialistas em saúde mental destacam que a dependência dessas atividades e de jogos como o “tigrinho” prejudica a produtividade, gera ausências frequentes e compromete as relações interpessoais, criando um problema que exige atenção urgente das empresas.

Com regulamentação no Brasil desde 2018, as apostas digitais atraem um público crescente, com dados do DataSenado mostrando que pelo menos 22 milhões de brasileiros participam dessas plataformas. Além disso, uma pesquisa do Instituto Locomotiva revela que 52 milhões de pessoas já se arriscaram em “bets” pelo menos uma vez.

O impacto no comportamento e saúde mental

Neurocientistas afirmam que os jogos são projetados para prender a atenção do usuário, o que pode gerar sérios efeitos na saúde mental. Uma pesquisa revelou que 86% dos apostadores brasileiros estão endividados, o que compromete diversas áreas de suas vidas. A psicóloga Licia Assbu alerta para o ciclo vicioso que a compulsão pelos jogos cria, afetando diretamente as relações no trabalho e o bem-estar familiar.

A estrutura das plataformas digitais também agrava o problema. Especialistas explicam que os mecanismos dessas casas de apostas são criados para reforçar o comportamento compulsivo, o que pode resultar em danos mais graves, caso não seja tratado.

Reflexos no trabalho e nas relações profissionais

O impacto do vício em apostas on-line é visível no ambiente corporativo. O psicólogo Rafael Nunes explica que a privação de sono e o cansaço gerado por longas horas dedicadas aos jogos prejudicam a capacidade de foco e a tomada de decisões. Além disso, comportamentos como irritação e desmotivação afetam as relações entre colegas e com gestores, prejudicando a dinâmica da equipe.

Infelizmente, muitas empresas ainda não estão preparadas para lidar com essa questão de saúde mental. Reconhecer o vício em jogos como uma condição legítima e não uma falha de caráter é o primeiro passo para uma abordagem mais eficaz.

O que as empresas podem fazer

Especialistas sugerem que as empresas criem programas de conscientização sobre os efeitos dos jogos on-line e ofereçam apoio terapêutico. Capacitar líderes para identificar sinais de dependência é fundamental, assim como promover práticas de autocuidado, como meditação e atenção plena. Criar um ambiente de segurança psicológica é essencial para que os colaboradores se sintam à vontade para buscar ajuda, evitando que o vício impacte ainda mais sua vida profissional e pessoal.

Urgência no combate ao vício

Embora a dependência de apostas digitais ainda seja subestimada nas empresas, os números revelam um problema crescente. Estudos apontam que cerca de 1% da população brasileira, ou 2 milhões de pessoas, enfrentam o vício em jogos. A mudança de perspectiva sobre essa questão, encarando-a como uma questão de saúde mental, é crucial para reduzir os impactos negativos tanto no ambiente corporativo quanto na vida dos colaboradores.