Um estudo publicado na Science Advances analisou dados morfométricos de aves amazônicas e revelou que, desde os anos 1980, pelo menos 77 espécies sofreram uma redução na massa corporal. Os pesquisadores associam essa mudança às transformações no clima e na vegetação da Amazônia nas últimas décadas. Além disso, um terço dessas espécies também apresentou um aumento no tamanho das asas, um fenômeno que pode estar relacionado à necessidade de adaptação às novas condições ambientais.

“Atribuímos esses resultados às pressões para aumentar a economia de recursos devido ao aquecimento”, afirma o estudo. “As mudanças morfológicas sazonais e de longo prazo sugerem uma resposta direta às mudanças climáticas.”

A pesquisa indicou que a redução da massa corporal das aves está diretamente correlacionada ao aumento das temperaturas no bioma. O crescimento das asas, por sua vez, pode ser uma adaptação para manter a eficiência no deslocamento. Desde 1966, o regime de chuvas na Amazônia tem se tornado mais extremo, com um aumento de até 13% na precipitação durante a estação chuvosa e uma redução de 15% na seca. As temperaturas também subiram de forma constante, com elevações de aproximadamente 1°C na estação chuvosa e 1,65°C na seca.

Comparando esses dados às mudanças nos padrões corporais das aves, os cientistas estimam uma probabilidade de até 90% de que a redução de massa seja uma resposta direta ao aumento da temperatura. O estudo reforça a teoria de que organismos menores tendem a prevalecer em climas mais quentes, especialmente em florestas tropicais.

“As aves eram mais leves quando as condições climáticas estavam mais quentes e secas, e essa relação se intensificava no ano seguinte a períodos de seca severa”, explicam os cientistas.

Diferente dos mamíferos, as aves são mais vulneráveis às mudanças climáticas, e as espécies tropicais enfrentam desafios ainda maiores devido às oscilações ambientais. Modelos temporais indicam que todas as 77 espécies analisadas sofreram redução na massa corporal, com uma correlação de 95% para quase metade da comunidade estudada.

Embora mudanças morfológicas dessa natureza costumem levar séculos, o rápido avanço das alterações climáticas tem acelerado esse processo, tornando-o perceptível em poucas décadas, alertam os pesquisadores.