
Na manhã desta terça-feira (25), a Polícia Federal deflagrou a Operação Sem Sabor, revelando um esquema de corrupção que marcou a gestão do ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, em 2020. A operação mobilizou 30 agentes, que cumpriram seis mandados de busca e apreensão em endereços como o condomínio Residencial Ponta Negra I, na zona oeste de Manaus, além de sedes de empresas ligadas ao caso.
No centro das investigações está Kátia Helena Serafina Cruz Schweickardt, então secretária municipal de Educação e atual Secretária de Educação Básica no Governo Lula.
A ação investiga fraudes na compra de kits de merenda escolar durante a pandemia de Covid-19, envolvendo desvios milionários, superfaturamento e direcionamento de contratos. A PF mobilizou 30 agentes e cumpriu seis mandados de busca e apreensão em condomínios de luxo e sedes de empresas em Manaus.
Kátia Schweickardt, que comandava a Secretaria Municipal de Educação (Semed) à época, foi citada em denúncias do Tribunal de Contas da União (TCU) ainda em 2020. Sob sua gestão, a compra de kits de merenda por R$ 11,4 milhões, sem licitação, favoreceu a empresa A Chaves Coimbra, que não tinha estrutura para fornecer os alimentos. Auditorias apontaram superfaturamento de R$ 2,8 milhões, com itens como achocolatado em pó e feijão carioca adquiridos por valores muito acima do mercado.
A investigação revela manipulação de processos, falta de planejamento e movimentações bancárias suspeitas. Parte do dinheiro pago pela prefeitura foi transferida rapidamente a outra empresa, sugerindo um conluio entre servidores, empresários e intermediários. A contratação sem concorrência comprometeu a alimentação de crianças da rede pública no auge da crise sanitária.
O programa “Hora da Merenda”, criado sob a gestão de Schweickardt para justificar a compra emergencial, foi questionado pelo TCU, que apontou ausência de justificativa legal para a dispensa de licitação e um direcionamento claro na escolha da fornecedora.
Agora, no Governo Lula, Schweickardt ocupa um cargo estratégico no Ministério da Educação, enquanto as investigações sobre sua gestão em Manaus ressurgem. A Operação Sem Sabor promete avançar na coleta de provas, reacendendo o debate sobre a responsabilidade de figuras públicas envolvidas em escândalos do passado.
Os investigados podem responder por fraude à licitação, corrupção passiva, lavagem de dinheiro e associação criminosa, com penas que ultrapassam 25 anos de prisão. Enquanto a PF segue desvendando o esquema, a presença de Schweickardt no alto escalão do governo federal gera questionamentos sobre a continuidade de nomes ligados a gestões marcadas por suspeitas de irregularidades.
Histórico negativo
A Operação Sem Sabor, que expôs suspeitas de corrupção na gestão da merenda escolar durante a administração de Arthur Virgílio Neto em 2020, não é o primeiro episódio controverso envolvendo Kátia Schweickardt à frente da Secretaria Municipal de Educação (Semed). Em 2017, a então secretária já protagonizava conflitos com a categoria dos professores, gerando críticas por sua postura diante de manifestações que questionavam a aplicação dos recursos do Fundeb.
Na época, Kátia chegou a classificar como “criminoso” o movimento dos professores que cobravam mais transparência e melhores condições salariais. A declaração foi dada durante uma entrevista coletiva ao lado do ex-prefeito Arthur Virgílio Neto, que reforçou as críticas aos manifestantes e tentou desqualificar o protesto. O episódio gerou forte reação do Sindicato dos Professores e Pedagogos do Município de Manaus (Asprom/Sindical), que repudiou as falas da secretária e defendeu o direito da categoria de reivindicar melhorias.