
A cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, envolvida na pichação da estátua “A Justiça” durante os ataques de 8 de janeiro de 2023, se manifestou sobre sua participação no episódio em depoimento realizado em novembro do ano passado. Ela afirmou que não invadiu nenhum dos prédios no dia dos ataques, mas admitiu que o “calor da situação” a levou a agir sem plena consciência, pedindo perdão pelo que fez e garantindo que nunca mais repetirá o ato.
Débora, de 39 anos, destacou durante a audiência que, ao chegar à praça dos Três Poderes, encontrou um homem desconhecido que já havia começado a pichação com a frase “perdeu, mané” na estátua. Ela relatou que ele pediu sua ajuda para continuar a escrita, a qual ela completou sem saber o impacto simbólico e financeiro da estátua. “Faltou talvez um pouco de malícia da minha parte”, afirmou. Ela descreveu o homem como branco, alto e com a bandeira do Brasil ao pescoço, mas não conseguiu identificá-lo em fotos.
Presente em Brasília desde 7 de janeiro de 2023, Débora afirmou que sua presença na manifestação se limitou à praça dos Três Poderes, da qual ela saiu antes da formação do cerco policial. Na prisão desde março de 2023, a cabeleireira se disse arrependida e declarou que nunca mais se envolverá em manifestações políticas, revelando que a experiência a deixou traumatizada e com repulsa a movimentos desse tipo.
Débora, que pagou R$ 50 em passagens para viajar de Paulínia (SP) até Brasília, alegou que seus filhos, menores de idade, passaram a apresentar comportamentos atípicos desde sua prisão, com um deles se tornando mais fechado e o outro agressivo. Ambos recebem acompanhamento psicológico.
Em sua defesa, ela pediu perdão pelo ato, afirmando que sua atitude foi impulsionada pelo “calor do momento” e que, como mãe, sempre orientou os filhos a respeitar a lei. “Me arrependo muito e jamais faria isso em sã consciência”, disse. Ela ainda destacou o trauma de estar presa e revelou ter desenvolvido crise de ansiedade, mas afirmou ser bem tratada no sistema prisional.
Débora foi acusada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de participação em crimes contra o Estado democrático de Direito e golpe de Estado, argumentando que sua atuação na pichação fez parte de um movimento maior para desestabilizar a democracia e pressionar as Forças Armadas a dar um golpe. Em maio de 2024, a PGR pediu sua condenação, considerando sua participação no ataque às sedes dos Poderes como um incentivo à ruptura democrática.
Em fevereiro de 2025, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou o julgamento de Débora, com o ministro-relator Alexandre de Moraes votando pela condenação a 14 anos de prisão, enquanto Flávio Dino acompanhou o voto. No entanto, Luiz Fux pediu vista para analisar o caso mais detalhadamente, sugerindo uma revisão da pena devido ao contexto em que Débora se encontrava.
A defesa de Débora, apoiada por alguns membros do bolsonarismo, argumenta que sua pena é exagerada e que há um movimento político em torno da acusação. O deputado Luciano Zucco (PL-RS) questionou a sentença, sugerindo que há um viés político e não jurídico nas condenações dos envolvidos nos atos de 8 de janeiro.