
No último domingo, uma nova cena chamou atenção nos supermercados de São Paulo: itens como café, picanha, bacalhau e azeite passaram a ser protegidos com grades, lacres e etiquetas antifurto. A medida é reflexo direto da alta nos preços e do aumento nos casos de furto.
Segundo o último levantamento do IBGE, o café lidera a inflação dos últimos 12 meses, com uma alta de impressionantes 77,78%, o que levou o item a ser classificado como de “alto valor” por redes varejistas.
Uma visita a 15 supermercados da capital paulista, entre os dias 11 e 14 de abril, revelou que Carrefour, Extra e Pão de Açúcar estão reforçando a segurança em seus produtos mais visados. Em lojas como o Mini Extra no largo do Arouche e o Carrefour Express no bairro da Saúde, pacotes de café popular são mantidos atrás de grades – enquanto versões mais caras, como cápsulas, permanecem acessíveis.
“Só hoje de manhã, duas pessoas tentaram furtar sacos de café. É constrangedor, precisamos abordar os clientes”, relatou um funcionário. O Carrefour afirmou que o protocolo segue uma lógica do setor: “É uma regra do varejo, só seguimos o mercado.”
Já o Grupo Pão de Açúcar não respondeu à reportagem.
Um promotor da marca Pilão revelou que, em uma única unidade no Grajaú, cerca de 300 unidades foram furtadas, forçando a adoção de lacres. “Pilão é mais fácil de esconder, não é a vácuo, ocupa menos espaço”, explicou.
A JDE Peet’s, empresa responsável por marcas como Pilão, Caboclo e Café Pelé, informou que as decisões sobre exposição e proteção dos produtos são responsabilidade exclusiva dos varejistas.
Além do café, bacalhau, azeite, picanha e bebidas alcoólicas também passaram a receber proteção especial. Em algumas lojas, azeites são mantidos em espaços fechados perto dos caixas. Em redes como Dia, Hirota Food e Oxxo, no entanto, nenhuma medida semelhante foi observada.
“Café está valendo mais que ouro agora”, brincou o empresário Giovani Ribeiro, 32, enquanto comprava picanha lacrada. Já uma consumidora desabafou: “Comprei três pacotes de café e foi o valor inteiro da minha compra.”
O novo comportamento do varejo evidencia o impacto direto da inflação no consumo e no cotidiano do brasileiro – e como itens antes triviais passaram a ser tratados como artigos de luxo.