Em mais um episódio polêmico de sua gestão, o prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), enfrenta novas denúncias envolvendo o plano de saúde dos servidores municipais, o Manausmed. Servidores comissionados relatam que estão sendo obrigados a aderir ao plano, mesmo com a inscrição sendo, por norma, voluntária. A pressão teria como objetivo ampliar os recursos destinados à rede privada Hapvida, que passou a administrar o Manausmed após sua privatização em 2024.

A parceria entre a Prefeitura de Manaus e a Hapvida envolve um contrato de R$ 108,4 milhões, que está sob análise do Tribunal de Contas do Estado do Amazonas (TCE-AM). Em fevereiro deste ano, o TCE-AM já havia suspendido um repasse de R$ 26 milhões do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) ao Fundo de Custeio do Plano de Saúde dos Servidores (Funserv), por entender que a operação era irregular.

Desde que a Hapvida assumiu a gestão do Manausmed, servidores denunciam problemas no atendimento, superlotação, demora em consultas e exames, falta de especialidades médicas e precariedade na infraestrutura das unidades.

“Lotado, um monte de gente aguardando na fila. Eu estou com uma crise de asma, tive que assinar uma lista para poder sentar, e a gente ainda ouve abuso de funcionário aqui”, relatou uma paciente sobre o atendimento no Hospital Rio Negro, no Centro de Manaus.

Outro servidor relatou que a obrigatoriedade da adesão foi imposta de forma direta: “A Manausmed é o plano de saúde dos servidores públicos municipais de Manaus e a sua inscrição é voluntária. Esses comissionados acordaram com a informação de que todos iam ter que pagar por ‘ordens do chefe’, mesmo quem já tem plano de saúde”.

Em outro caso, uma servidora relatou a falta de estrutura durante o atendimento de um familiar: “No pronto-socorro o atendimento está bem complicado, são equipamentos velhos. Não tinham todos os medicamentos quando ela precisou, só tinham para baixar a pressão. Até questão de vestimenta — ela ficou sem bata porque o hospital não tinha uma para fazer um eletro”.

Há ainda denúncias de suspensão de tratamentos essenciais. Uma mãe afirmou que o filho, diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA), teve o acompanhamento interrompido sem justificativa. “Está tudo desorganizado. Estou com meu filho, que é autista, e faz terapia semanal. Os atendimentos estão suspensos, inclusive ele faz uso de medicação controlada. Não consigo levá-lo à consulta de rotina porque não tenho acesso ao cadastro”, declarou.

A situação gerou mobilização entre os servidores e pode levar a desdobramentos judiciais. A Justiça Federal pode ser acionada para investigar supostas irregularidades administrativas e possíveis abusos relacionados à adesão forçada ao Manausmed.