
O general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, foi advertido nesta segunda-feira (19) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), durante audiência no inquérito que investiga a tentativa de golpe de Estado atribuída ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros sete acusados. O depoimento do general foi encerrado por volta das 18h30.
Durante a oitiva, Moraes questionou a divergência entre o que o militar havia dito à Polícia Federal e o que afirmava no STF. No depoimento anterior, Freire Gomes relatou que o almirante Almir Garnier, então comandante da Marinha, teria se colocado à disposição de Bolsonaro durante uma reunião em que foi apresentado um parecer jurídico para sustentar um possível golpe.
— O senhor falseou a verdade na polícia ou está falseando aqui? — questionou Moraes.
Freire Gomes negou estar mentindo. Disse que, em 50 anos de Exército, jamais faltaria com a verdade, e afirmou que Garnier declarou estar “com o presidente”, sem especificar o sentido da fala.
Sem voz de prisão
O general negou que tenha dado voz de prisão a Bolsonaro durante as reuniões em que se discutiu a decretação de Estado de Sítio e Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Segundo ele, alertou o então presidente de que, caso ultrapassasse os limites legais, poderia ser implicado juridicamente.
— Não aconteceu isso [voz de prisão], de forma alguma. Eu alertei ao presidente que, se saísse dos aspectos jurídicos, ele seria implicado — afirmou.
Clima tenso
A audiência também foi marcada por tensão entre Moraes e o advogado Eumar Novak, defensor de Anderson Torres. Após Novak repetir diversas vezes a mesma pergunta sobre a presença de Torres nas reuniões, Moraes reagiu:
— Não estamos aqui para fazer circo. Não vou permitir que Vossa Excelência faça circo no meu tribunal. Não adianta repetir seis vezes a mesma pergunta.
Audiências e julgamento
O depoimento de Freire Gomes foi o primeiro de uma série de oitivas no STF. Até 2 de junho, serão ouvidas 82 testemunhas arroladas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e pelas defesas dos réus. A próxima audiência será nesta quarta-feira (21), com o ex-comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Baptista Júnior.
Após os depoimentos, Jair Bolsonaro e os demais réus deverão ser interrogados. A data ainda não foi definida. A expectativa é que o julgamento ocorra ainda este ano.