Após ser indiciado pela Polícia Federal (PF) no caso da “Abin Paralela”, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou, nesta terça-feira (17/6), que duvida existir alguém no Brasil que tenha sido “mais perseguido” do que ele. A declaração foi feita durante um evento em Presidente Prudente, no interior de São Paulo.

“Eu duvido que alguém no Brasil foi mais perseguido do que eu. Mas vale a pena. Temos que enfrentar os desafios, mexemos com o sistema. Um sistema podre, carcomido”, disse Bolsonaro durante a Feira Internacional da Cadeia Produtiva da Carne (Feicorte). O ex-presidente estava acompanhado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), além de outras lideranças políticas como o secretário de Governo, Gilberto Kassab (PSD).

Inelegível após condenação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bolsonaro afirmou que pretende voltar ao cenário político em breve: “Espero estar no tabuleiro político no ano que vem”, declarou. Em tom de provocação, afirmou que sua participação em eleições é vista por adversários como “a negação da democracia”.

Durante o discurso, o ex-presidente também fez comparações entre figuras do seu governo e do atual governo Lula (PT), questionando o público: “Dá para comparar Paulo Guedes com [Fernando] Haddad? Renan Filho com Tarcísio? Dá para comparar [a primeira-dama] Janja com a Michelle [Bolsonaro]?”, ironizou.

Além de Tarcísio, Kassab e Bolsonaro, também estavam presentes no evento o vice-governador de São Paulo, Felício Ramuth (PSD), o presidente da Assembleia Legislativa, André do Prado (PL), e o secretário estadual de Agricultura, Guilherme Piai (Republicanos).

O caso da “Abin Paralela”

O indiciamento de Bolsonaro faz parte das investigações da PF sobre a existência de uma estrutura ilegal de espionagem dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), apelidada de “Abin Paralela”. Segundo a corporação, a estrutura operou entre 2019 e 2021 para monitorar adversários políticos do então presidente.

Foram indiciados, além de Bolsonaro, o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin; o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente; e o atual diretor da agência, Luiz Fernando Corrêa. Outras 31 pessoas também foram formalmente acusadas.

De acordo com a PF, a espionagem era realizada com o uso do software israelense First Mile, adquirido durante o governo de Michel Temer. O programa permitia o rastreamento da localização de alvos a partir de dados de torres de telecomunicações.

Bastidores e especulações sobre 2026

A participação de Tarcísio de Freitas ao lado de Bolsonaro ocorre em meio a crescentes especulações de que o governador paulista pode ser o nome do grupo bolsonarista para a disputa presidencial de 2026.

Aliados de Bolsonaro têm discutido a possibilidade de uma chapa com Tarcísio como cabeça de chapa e Michelle Bolsonaro como vice. O arranjo é visto como uma forma de garantir que, caso eleito, Tarcísio abra caminho para um possível indulto ao ex-presidente, caso ele venha a ser condenado no Supremo Tribunal Federal (STF).

Interlocutores próximos a Tarcísio afirmam que o governador é “extremamente leal e fiel” a Bolsonaro e que, em 2026, fará “100% do que o ex-presidente pedir”. Apesar disso, oficialmente, Tarcísio mantém o discurso de que concorrerá à reeleição ao governo de São Paulo e que seu candidato ao Planalto continua sendo o próprio Bolsonaro.