
O Irã lançou nesta segunda-feira (23) uma série de mísseis contra bases militares dos Estados Unidos no Iraque e no Qatar. A ofensiva foi uma retaliação direta aos ataques americanos realizados no sábado (21) contra três instalações nucleares iranianas. O episódio aumenta ainda mais a tensão no já fragilizado cenário do Oriente Médio, envolvido em uma escalada militar desde o início do mês.
Uma das bases atingidas foi a de Al-Udeid, no Qatar, considerada estratégica para as operações americanas na região. Segundo fontes do governo do país, seis mísseis foram disparados pelo Irã, mas não houve registro de mortos ou feridos. No Iraque, a base aérea de Ain al-Asad também foi alvo, forçando a ativação do sistema de defesa antiaérea e levando os soldados a se refugiarem em bunkers. Explosões foram ouvidas nas proximidades, de acordo com a emissora Al Jazeera.
A TV estatal iraniana confirmou o início da “Operação Anunciação da Vitória”, informando que a ofensiva teve como objetivo responder à “agressão militar flagrante dos Estados Unidos”. O ataque, segundo o Irã, teve caráter proporcional e evitou alvos civis no Qatar, país que teria sido previamente avisado sobre a ofensiva, conforme relataram veículos como CNN e The New York Times. O governo americano também teria sido informado, segundo fontes diplomáticas.
Em Washington, o presidente Donald Trump convocou uma reunião de emergência no Salão Oval para avaliar a situação. Apesar da gravidade, a Casa Branca adotou uma postura cautelosa, classificando o ataque iraniano como “simbólico” e interpretando-o como um gesto interno do regime de Teerã para manter sua imagem perante a população.
A principal base dos EUA na Síria foi colocada em alerta máximo. Embaixadas americanas em Doha e Bahrein também reforçaram medidas de segurança, emitindo alertas para que cidadãos dos EUA procurassem abrigo. O Qatar, que considerou os ataques uma “violação flagrante de soberania”, chegou a fechar seu espaço aéreo preventivamente.
A base de Al-Udeid, localizada ao sudoeste de Doha, abriga cerca de 10 mil soldados e é o quartel-general avançado do Comando Central dos EUA. Criada em 1996, ela comanda operações em regiões que vão do Egito ao Cazaquistão, sendo uma das mais importantes instalações militares americanas fora do país.
Em comunicado oficial, o Irã reafirmou que não tolerará agressões à sua integridade territorial e prometeu novas respostas em caso de mais ataques. “A era do espancamento e enfrentamento chegou ao fim”, declarou o regime, acusando os EUA de agirem como extensão dos interesses israelenses. O país ainda afirmou que os mísseis lançados hoje foram em número equivalente ao dos usados pelos EUA no bombardeio de sábado.
Os ataques iranianos ocorreram dois dias após uma operação americana com bombardeiros B-2, que lançaram 14 bombas sobre alvos nucleares no Irã. Segundo o chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA, três instalações foram severamente danificadas. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) exigiu acesso imediato aos locais atingidos para avaliar o impacto e as reservas de urânio enriquecido.
O atual conflito remonta ao último dia 13, quando Israel lançou um ataque surpresa ao Irã, sob a justificativa de que o país estaria perto de desenvolver uma arma nuclear. Teerã nega e insiste que seu programa é pacífico. Autoridades iranianas alegam que estavam em processo de negociação com os EUA para garantir a adesão plena ao Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares.
Apesar das acusações, a AIEA declarou não ter provas concretas de que o Irã esteja produzindo armamentos atômicos. Mesmo assim, acusa o país de descumprir obrigações internacionais. Teerã rebate, acusando a agência de estar sob influência política das potências ocidentais aliadas de Israel, como EUA, França e Reino Unido.
Relatórios da Inteligência dos EUA, divulgados em março, apontaram que o Irã não estaria construindo armas nucleares naquele momento. Em contrapartida, o histórico do programa nuclear israelense — não oficialmente reconhecido — indica a existência de cerca de 90 ogivas, segundo diversas fontes ao longo das últimas décadas.
A comunidade internacional agora observa os próximos passos de Washington e Teerã, com a esperança de que a ofensiva iraniana tenha sido uma resposta calculada, sem intenção de ampliar o conflito. Diplomatas da ONU ainda consideram possível a retomada de diálogo entre as duas potências, embora o cenário siga altamente instável.