
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, criticou nesta terça-feira (24), em Londres, os conflitos armados que se espalham pelo mundo e defendeu uma mudança de foco global: combater a pobreza, as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade. As declarações foram feitas após o primeiro diálogo do Balanço Ético Global (BEG), iniciativa promovida pelo governo brasileiro em parceria com a ONU.
“Estamos investindo recursos e tecnologia em destruição, em vez de combater desigualdades e preservar a vida. Guerras que nos deixam inseguros e impedem a cooperação entre os povos precisam ser substituídas por uma agenda de reconstrução”, declarou a ministra.
Marina chamou a crise climática de uma “guerra silenciosa”, que mata cerca de 500 mil pessoas por ano apenas em decorrência de ondas de calor, mas que não provoca a mesma mobilização que os conflitos bélicos. Para ela, o enfrentamento da emergência climática exige ação conjunta de governos, setor privado, sociedade civil e sistema financeiro.
A ministra também propôs a criação de um “constrangimento ético” diante da autodestruição ambiental e social em curso, para provocar reflexão e mudança de atitude por parte de empresas, governos e cidadãos.
Segundo Marina, o Balanço Ético Global tem o objetivo de ouvir diferentes vozes da sociedade – como mulheres, jovens, indígenas, afrodescendentes, lideranças religiosas e pensadores – em vários continentes, para construir uma resposta ética e justa à crise climática. O primeiro encontro, na Europa, foi liderado por Mary Robinson, ex-presidente da Irlanda e referência em justiça climática.
“A troca foi um sucesso. Discutimos, a partir da ética, o que precisa ser feito – ou deixado de fazer – para manter o planeta dentro do limite de 1,5 °C de aquecimento”, avaliou Marina.
COP30 como virada histórica
Durante a coletiva, Marina também reforçou que a COP30, marcada para o fim de 2025 em Belém (PA), pode se tornar um novo marco global, dez anos após o Acordo de Paris.
Para isso, segundo a ministra, será essencial construir um “mapa do caminho” para tirar do papel decisões já acordadas e incentivar os países a apresentarem Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) mais ambiciosas e compatíveis com as metas do Acordo.
O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, também esteve presente e destacou que a conferência poderá ajudar a restaurar a confiança no multilateralismo.
“Em tempos de crise, a reafirmação da cooperação global é ainda mais necessária. Há uma frustração crescente com a incapacidade do sistema internacional de dar respostas efetivas. A COP pode ser um momento de virada”, concluiu.