
Uma irmã do apóstolo Valdemiro Santiago, fundador da Igreja Mundial do Poder de Deus, ocupa um cargo de liderança em uma das entidades no centro do escândalo das fraudes com descontos indevidos nas aposentadorias de segurados do INSS. Sonia Maria de Oliveira, de 64 anos, aparece como secretária-geral do Centro de Estudos dos Benefícios dos Aposentados e Pensionistas (Cebap), uma das associações alvo da Polícia Federal na Operação Sem Desconto.
Sonia também chegou a presidir eleições internas do Cebap, que tem sede na zona oeste de São Paulo, próximo à Avenida Faria Lima. A entidade faturou sozinha R$ 202 milhões desde que foi autorizada pelo INSS, no fim de 2022, a descontar mensalidades diretamente dos benefícios dos aposentados.
A ligação da família de Valdemiro com o esquema não se restringe ao Cebap. Uma outra associação do grupo, a Unsbras (União dos Aposentados e Pensionistas do Brasil), também tem uma familiar do líder religioso entre os dirigentes: a mãe de um dos sobrinhos de Valdemiro. Ambas as associações estão sob controle do empresário Maurício Camisotti, suspeito de comandar o esquema com uso de laranjas.
Camisotti, que atua no setor de seguros e saúde, já é alvo de investigação por movimentações financeiras suspeitas envolvendo ao menos R$ 43 milhões entre as entidades e empresas a ele ligadas. Documentos apontam que durante as investigações, as entidades passaram a contratar empresas de compliance e escritórios de advocacia na tentativa de dar aparência de legalidade às operações.
Fontes internas afirmam que, por orientação dos advogados, a estratégia foi substituir parentes e pessoas próximas de Camisotti por novos dirigentes de fora de sua rede pessoal. No entanto, parte das substituições incluiu justamente pessoas ligadas à família de Valdemiro Santiago, reforçando as suspeitas sobre o controle das entidades.
O Cebap e a Unsbras alegam que as nomeações são “mera coincidência” e que o histórico familiar dos dirigentes não foi critério para suas contratações. Já Maurício Camisotti não explicou a relação entre as associações e os parentes de Valdemiro.
O escândalo dos descontos indevidos começou a ser exposto no fim de 2023, revelando que as associações arrecadaram mais de R$ 2 bilhões em um ano, mesmo enfrentando milhares de processos por fraude nas filiações. A repercussão levou à abertura de investigações pela Polícia Federal e pela Controladoria-Geral da União, além de resultar nas demissões do então presidente do INSS e do ministro da Previdência.
O caso segue em apuração. As entidades, o empresário e os envolvidos negam qualquer irregularidade.