
A venda da tadalafila, medicamento usado no tratamento da disfunção erétil, cresceu mais de 2.000% no Brasil na última década, segundo dados da Anvisa divulgados em maio. O número de unidades comercializadas saltou de 3 milhões em 2015 para 64 milhões em 2024.
Esse crescimento expressivo acende um alerta entre especialistas, devido ao aumento da automedicação e do uso recreativo do medicamento, impulsionado por conteúdos virais nas redes sociais.
A tadalafila é um inibidor da enzima fosfodiesterase tipo 5 (PDE5) que atua na musculatura lisa do pênis, facilitando a ereção ao aumentar o fluxo sanguíneo local. É indicada para homens com disfunção erétil e, em alguns casos, para tratar hiperplasia prostática benigna.
Contudo, o remédio tem sido utilizado por pessoas sem diagnóstico médico, motivadas por promessas de melhora no desempenho sexual, muitas vezes sem respaldo científico. Essa popularização digital contribui para a banalização da disfunção erétil e para a chamada “masculinidade ansiosa” — termo usado por psicólogos para descrever a pressão sobre o homem moderno em atingir padrões irreais de performance sexual.
“O desejo obsessivo por desempenho pode gerar ansiedade, insegurança e até depressão,” alerta o urologista Dr. Giuseppe Figliuolo, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia no Amazonas. “Além disso, o uso do remédio afasta a vivência sexual afetiva e emocional, que acaba sendo substituída por soluções rápidas e farmacológicas.”
O uso inadequado da tadalafila pode causar efeitos colaterais graves, incluindo dores de cabeça, tontura, hipotensão, visão borrada, priapismo (ereção dolorosa prolongada), entre outros problemas. O especialista ressalta que o medicamento também pode mascarar doenças cardiovasculares, atrasando diagnósticos importantes.
A automedicação traz riscos sérios, podendo levar à dependência e até a complicações fatais. O tratamento seguro da disfunção erétil deve ser feito com acompanhamento médico, com dosagens personalizadas e avaliação multidisciplinar.
Alternativas para o tratamento incluem mudanças no estilo de vida, prática regular de exercícios, alimentação equilibrada, sono adequado, controle do estresse, além do tratamento de doenças associadas como diabetes, hipertensão e depressão. Psicoterapia também é recomendada para casos ligados à ansiedade e traumas.
A Sociedade Brasileira de Urologia reforça a importância do uso responsável da tadalafila, destacando que o medicamento deve ser prescrito apenas para indicações clínicas comprovadas. “O uso indiscriminado pode causar distúrbios sexuais, danos ao sistema cardiovascular e graves efeitos psicológicos,” alerta a entidade.