Os mercados cambial e de ações sentiram forte impacto nesta sexta-feira (1º/8) devido à desaceleração do mercado de trabalho nos Estados Unidos e aos novos desdobramentos do pacote tarifário imposto pelo presidente Donald Trump. O dólar caiu 1,01% frente ao real, fechando a R$ 5,54, enquanto o Ibovespa, principal índice da B3, recuou 0,49%, aos 132.418 pontos.

Diferentemente de ocasiões anteriores, o principal fator que influenciou os mercados globais não foi o tarifaço, mas sim os dados decepcionantes do emprego nos EUA, divulgados nesta sexta. O relatório de julho do payroll — indicador-chave da criação de vagas fora do setor agrícola — ficou muito abaixo das expectativas.

No mês passado, foram criados apenas 73 mil empregos, enquanto analistas projetavam entre 110 mil e 115 mil novas vagas, após os 147 mil postos gerados em junho.

A economista Andressa Durão, do ASA, destaca que, além da surpresa negativa de julho, o impacto maior veio das revisões para baixo dos meses anteriores: “Houve correção de -125 mil empregos em maio e -133 mil em junho no total do payroll.”

Para Seema Shah, estrategista-chefe da Principal Asset Management, esses números enfraqueceram a percepção de resiliência do mercado de trabalho americano e reforçaram a expectativa de corte na taxa de juros na reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) em setembro.

Atualmente, os juros nos EUA estão entre 4,25% e 4,50% — alvo constante de críticas do presidente Trump contra o presidente do Fed, Jerome Powell, a quem chamou novamente nesta sexta de “desastre”.

Além das tensões políticas, a perspectiva de redução dos juros americanos afeta globalmente os mercados. Ela sinaliza queda nos rendimentos dos títulos do Tesouro (Treasuries), tornando investimentos em ativos de risco, como ações em países emergentes, mais atraentes. Isso pressiona o dólar para baixo e eleva os índices acionários.

Bruno Shahini, especialista da Nomad, comenta que, após a divulgação do payroll, os juros futuros recuaram fortemente, com a taxa dos títulos de 10 anos caindo 10 pontos-base. A chance de corte de juros em setembro subiu para 60%, ante 40% antes dos dados.

A queda do dólar foi generalizada. O índice DXY, que mede a força do dólar frente a seis moedas fortes, registrou queda de 1,26% no período da tarde.

Ainda que o tarifaço tenha perdido força como principal motivador, ele também pesou. Após novas sobretaxas anunciadas por Trump contra diversos parceiros comerciais, incluindo uma tarifa de 34% sobre produtos suíços, as principais bolsas europeias registraram as maiores quedas desde abril.

O Stoxx 600, que reúne empresas de 17 países, caiu 1,81%. O FTSE 100, de Londres, recuou 0,70%, o DAX, de Frankfurt, perdeu 2,66%, e o CAC 40, de Paris, fechou com queda de 2,91%, a mais intensa do grupo.