
Mesmo sob investigação da Procuradoria-Geral da República (PGR) por suspeitas de irregularidades em contratos públicos, a construtora J.A Construcons segue normalmente suas atividades e está à frente de um projeto milionário financiado com recursos públicos no Pará. A empresa faz parte do consórcio Canal Benguí, responsável por obras de adequação de canais em Belém, parte dos preparativos da cidade para a COP30, prevista para 2025.
O contrato, orçado em R$ 123 milhões, tem 87% dos trabalhos concluídos e conta com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Apesar das investigações, nenhuma ação foi tomada para suspender ou revisar o acordo.
A situação se agrava ao envolver nomes como a empresária Andrea Dantas, esposa do deputado federal Antônio Doido (MDB-PA), e o secretário estadual de Obras Públicas, Ruy Cabral, também investigados em outro inquérito da PGR. Esse segundo processo apura um contrato de R$ 142 milhões que foi cancelado após a prisão de um policial militar acusado de movimentações financeiras suspeitas.
De acordo com a PGR, no mesmo dia em que o consórcio venceu a licitação do contrato cancelado, o policial Francisco Galhardo sacou R$ 6 milhões em espécie e manteve contato direto com o secretário Ruy Cabral. O Ministério Público investiga um possível esquema de corrupção envolvendo as construtoras J.A Construcons e JAC Engenharia, atuando dentro de estruturas públicas e políticas do Pará.
Apesar do quadro preocupante, o governo federal, por meio do BNDES, mantém postura passiva, afirmando que sua atuação se limita ao “acompanhamento técnico e financeiro” dos repasses e que não foi formalmente informado sobre irregularidades.
O governo do Pará, em nota, afirmou que todas as contratações seguem a legislação vigente e negou vínculos comerciais com membros da Polícia Militar. Também negou que o secretário Ruy Cabral tenha se reunido com o policial citado ou recebido notificações sobre processos oficiais.
A defesa do deputado Antônio Doido classificou as acusações como “ilações” e repudiou o vazamento das informações, afirmando que o parlamentar está à disposição das autoridades e confia na legalidade dos atos praticados durante seu mandato.