
Uma operação da 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia Centro), realizada nesta quarta-feira (20/8), revelou um esquema de extorsão digital em que homens eram enganados ao tentar marcar encontros com garotas de programa. A investigação identificou um grupo organizado, com divisão de tarefas, uso de “contas laranja” e chips descartáveis, que se passava pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) para ameaçar suas vítimas.
Como funcionava o golpe
O esquema, conhecido como “golpe do encontro”, envolvia a promessa de um programa barato em hotel, motel ou flat. Após o primeiro pagamento para garantir a reserva, os criminosos ameaçavam expor os homens e pressionavam por quantias adicionais, usando terrorismo psicológico.
Em mensagens gravadas, um dos criminosos dizia:
“Já tenho os dados da sua família. Estou entrando em contato para resolvermos da melhor forma para ninguém sair no prejuízo ou para não sobrar para alguém da sua família.”
Outro aviso incluía ameaças de exposição pública:
“O primeiro passo aqui é fazer uma visita na sua casa e trabalho e te expor de uma forma que você nunca viu. Como vamos fazer para resolver da melhor forma?”
Valores exigidos
A investigação revelou que um homem de 31 anos pagou R$ 600 de um total de R$ 2,1 mil exigidos:
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R$ 100 – pagamento inicial;
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R$ 100 – adicional sob falsa justificativa;
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R$ 500 – sob ameaça de morte;
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R$ 1,5 mil – exigido para encerrar o caso.
Estrutura da quadrilha
A análise de dados bancários e telefônicos mostrou que o grupo era estruturado e atuava em todo o país. Cinco suspeitos, três homens e duas mulheres, com idades entre 21 e 27 anos, naturais de Montes Claros (MG), desempenhavam funções específicas:
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Mulher de 23 anos: criação de anúncios falsos, contato direto com vítimas e envio de mensagens ameaçadoras.
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Homem de 27 anos: gerenciamento das contas bancárias e recebimento dos valores via Pix.
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Homem de 21 anos: alteração de números nos anúncios após os golpes para dificultar rastreamento.
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Duas pessoas, de 21 e 23 anos: fornecimento de contas bancárias e chaves Pix como “laranjas”, caracterizando lavagem de dinheiro.
Técnicas de ocultação digital
O grupo usava troca frequente de números de telefone, múltiplos chips, e-mails falsos e contas bancárias de terceiros para dificultar a investigação. Um dos números de telefone chegou a ser cancelado e reativado em nome de uma empresa, evidenciando tentativa deliberada de ocultar a autoria.
Ações da operação
A operação “Falso Anúncio” cumpriu cinco mandados de prisão temporária e cinco de busca e apreensão em Montes Claros (MG), com o objetivo de prender os suspeitos, preservar provas digitais e materiais, e identificar novas vítimas. Foram apreendidos celulares, computadores, documentos, mídias digitais, chaves Pix e eventuais valores em espécie.
A investigação também identificou pelo menos três casos similares no Distrito Federal, todos usando a mesma metodologia: anúncios falsos, extorsão e ameaças.