Entre 1985 e 2020, a temperatura média da Amazônia subiu cerca de dois graus. À primeira vista, o aumento pode parecer pequeno — especialmente para quem insiste em minimizar as mudanças climáticas. Mas, nesse bioma, cada grau adicional tem efeitos profundos: acelera a mortalidade das árvores, prolonga e intensifica secas e incêndios, reduz as chuvas, compromete o ciclo hidrológico, aumenta o risco de savanização, diminui a capacidade de armazenamento de carbono e ameaça toda a biodiversidade da região. O resultado pode ser um ponto de não retorno.

Essa é a conclusão de um estudo da Fundação Oswaldo Cruz, desenvolvido no projeto “Vulnerabilidades à Mudança do Clima” (2016) e confirmado em artigo recente de pesquisadores da USP, que analisaram 35 anos de dados sobre desmatamento e clima na floresta. Os cientistas identificaram números alarmantes: em média, o período de seca na região cresce 12 dias a cada década. Para eles, não existe exploração econômica “segura” que envolva derrubada de floresta.

Surge, então, uma questão crucial: seria preciso abrir mão das riquezas amazônicas e condenar sua população à pobreza? A resposta é não. Há evidências sólidas de que é possível explorar os recursos da floresta de forma sustentável, desde que com responsabilidade ambiental, planejamento de longo prazo e compromisso real com a conservação.

O problema é que, no Brasil, colocar esse modelo em prática exige mudanças profundas. A legislação ambiental precisaria ser adaptada; órgãos como Ibama e ICMBio teriam de ser fortalecidos; União, estados e municípios precisariam atuar em sintonia; e até mesmo governos estrangeiros teriam de colaborar no esforço.

Trata-se de um desafio complexo, mas viável. O agravamento dos impactos climáticos na Amazônia mostra que esse debate não pode mais ser adiado.