
Com o tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, o Brasil corre o risco de perder espaço no maior mercado consumidor de café do mundo e ser substituído por concorrentes como México, Honduras e Colômbia nas próximas safras. O alerta é de Marcos Matos, diretor-executivo do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
“O grande receio é perder o maior mercado global, onde estão as principais empresas. É um prejuízo enorme para o Brasil e para seus produtores”, afirmou Matos em entrevista ao Broadcast nas Redes.
A sobretaxa já afeta diretamente o desempenho das exportações. Os embarques de café brasileiro aos EUA caíram 52,8% em setembro, somando 332,8 mil sacas. Em 2024, o país havia exportado 8,1 milhões de sacas, o equivalente a US$ 2 bilhões, ou 16% de toda a exportação nacional do grão.
Com a nova tarifa, os Estados Unidos deixaram de ser o principal destino do café brasileiro, caindo para a terceira posição em setembro, atrás da Alemanha e de outros importadores. Segundo o Cecafé, o impacto financeiro é “incalculável”, devido a adiamentos, suspensões e cancelamentos de contratos.
“O aumento de 40% no preço internacional do café, somado à tarifa de 50%, inviabiliza os embarques”, afirmou Matos, destacando que o Brasil fornece 34% do café consumido pelos americanos, e que 76% da população dos EUA consome café diariamente.
Apesar da perda de mercado, o Brasil tem redirecionado parte das exportações para Europa, países árabes e asiáticos, o que atenuou o impacto na balança comercial. De janeiro a setembro, o país exportou 29,1 milhões de sacas, uma queda de 20,5% em volume, mas com alta de 30% na receita, que chegou a US$ 11,05 bilhões.
O Cecafé defende que o café seja incluído na lista de exceções ao tarifaço, e há sinalizações positivas de importadores e autoridades americanas. Segundo Matos, o tema foi tratado em conversas entre Lula e Donald Trump, além de uma missão diplomática brasileira a Washington.
“Talvez seja possível suspender totalmente a tarifa ou ampliar a lista de exceções. O importante é virar a página das tarifas”, declarou o executivo.
O Cecafé aponta que o encarecimento do café no varejo americano, com a maior alta desde 1997, já pressiona consumidores e autoridades locais a reverem a medida. Paralelamente, o setor aposta na diversificação de mercados, mirando China e Austrália, e prevê preços elevados no mercado internacional até o fim do ano, em meio a estoques baixos e incertezas sobre a próxima safra.