Mas AmarElo – É Tudo Pra Ontem vai além ao trazer, com ilustrações, canções e uma narração do próprio cantor e compositor, uma história do Brasil e da música brasileira, interconectando o samba, o modernismo e o movimento negro numa reflexão iluminadora não apenas sobre a formação da identidade de um artista (e de um grupo que o circunda), mas também sobre o que se entende por Brasil nos últimos 100 anos. Nesse sentido, o filme esfumaça barreiras comerciais e se torna muito mais do que um documentário musical da Netflix, muitas vezes associados demais aos seus artistas e produtores, a ponto de se tornarem chapa-branca.
“Nós, do lado de cá, orbitamos esse tema (dos movimentos sociais, negros e culturais do Brasil) de perspectivas diferentes”, conta Emicida ao Estadão. “Tem quem observa toda a história com sensibilidade maior para a participação feminina, outros irmãos gostam de procurar a pluralidade dos posicionamentos políticos. Temos um grupo de estudos para entender o Brasil. Particularmente, eu e o Evandro (Fióti, irmão e sócio) organizamos um tripé: uma arte que se pretende moderna, a intersecção entre arte e política que não é uma característica contemporânea e que nasce de movimentações pretas, de pessoas que se propõem a pensar o País e sugerir caminhos; e o samba, o centro gravitacional de tudo que consideramos positivo no Brasil. Tudo que a gente acha que deu certo tem uma influência do samba.”
O filme ainda traz uma parceria inédita entre Emicida e Gilberto Gil, que declama um texto de Ailton Krenak na música É Tudo pra Ontem. “O Gil é uma entidade”, reverencia. A música será lançada nos próximos dias.
“Depois do show, o Emicida e o Toni passaram meses no roteiro, mas sabemos que documentário, uma vez que começa a montar, muda tudo, muda ordens, coisas aumentam e vão surgindo”, diz Fred. Outro recurso utilizado pelo filme é o de animações (por Felipe Macedo) e ilustrações (Alexandre de Maio), que ajudam a reconstituir eventos históricos.
A pós-produção ocorreu praticamente toda de maneira remota, e o diretor chegou a enviar para Emicida uma câmera MiniDV, para ele filmar sua rotina de maneira amadora, durante a pandemia.
Mas e depois de álbum, documentário, séries de podcasts, vídeos no YouTube, conteúdo escrito, o AmarElo está dado por encerrado? “Ainda tem coisa”, garante Emicida. “Este ano, foi o que menos escrevi música na vida, mas viajando aqui, estou pensando em escrever um livro. Me aguarde que voltarei.”
Fonte: Terra