Depois de perder 40% de seu valor neste ano frente ao dólar, o real começa a dar “sinais de vida” neste turbulento final de 2020.

A moeda americana, que chegou a ser cotada a R$ 5,94 em maio, nesta quinta-feira (10) foi negociada a R$ 5,03 – o menor valor desde junho. O que está acontecendo? A eleição de Biden nos EUA trouxe mais “apetite” aos investidores pelo risco? Os sinais da equipe econômica do governo brasileiro são promissores? As vacinas contra a covid-19 finalmente vão começar a colocar o mundo na trilha do crescimento?

Luís Amato, sócio e chefe da mesa de renda variável da B.Side Investimentos, conversou com o Yahoo Finanças para explicar um pouco desse processo de desvalorização da moeda norte-americana.

Yahoo Finanças: Quais os motivos para a queda do dólar?

Luís Amato: É uma série de fatores, tanto internos quanto externos. A eleição nos EUA foi muito importante. Os investidores tiveram mais apetite pelo risco, o que beneficia o Brasil. Nosso país também sinalizou um avanço das reformas e das privatizações. O fluxo de investimentos para a Bolsa brasileira acompanhou esse processo.

Yahoo Finanças: Quem se beneficia desse processo? E quem sai prejudicado?

Luís Amato: Na Bolsa, as ações mais afetadas são as de empresas exportadoras, papel e celulose e commodities, além daquelas companhias com receitas atreladas ao dólar. Único segmento que tem resistido é o de commodities porque a demanda está em alta. Petrobras e Vale, por exemplo, estão indo bem. Já o setor das empresas aéreas teve uma alta muito forte em novembro. A receita delas é em real e muitos dos custos de operações são em dólar, como o querosene.

Yahoo Finanças: O governo brasileiro tem alguma coisa a ver com esse movimento de queda da moeda americana?

Luís Amato: A manutenção do teto de gastos é o grande driver. O governo precisa mostrar um controle dos gastos públicos. Se estourar isso, é Bolsa para baixo e dólar pra cima em 2021. Caso tenha esse controle, o dólar pode cair mais e a Bolsa subirá. O impeachment da Dilma foi muito por causa disso, dos gastos descontrolados, das pedaladas fiscais.

Yahoo Finanças: Alguns economistas falam em dólar abaixo de R$ 4 no ano que vem. Já outros dizem que com crise fiscal e retomada fraca a moeda pode chegar a R$ 6 em 2021. Qual o quadro mais possível?

Luís Amato: É factível que o dólar caia mais por causa desse forte fluxo na Bolsa. Um câmbio abaixo dos R$ 4 acho muito pouco provável. Temos insegurança por causa de uma segunda onda de contágio da covid-19 e a instabilidade das agendas reformistas brasileiras. Se o governo não conseguir implementar essa agenda, o dólar pode eventualmente subir. O cenário é bom, mas não se deve descartar o imponderável.

Fonte: Yahoo!