
Mensagens obtidas pela Polícia Federal nas Operações Tempus Veritatis e Contragolpe revelam descontentamento de aliados de Jair Bolsonaro com a postura das Forças Armadas durante a tentativa de ruptura democrática no início do governo Lula. Os registros indicam que o ex-presidente não levou adiante um decreto golpista, já redigido, por medo de ser preso diante da falta de apoio do Exército e da Aeronáutica.
O relatório, que fundamenta o indiciamento de Bolsonaro e outros 36 envolvidos por crimes como abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado, destaca diálogos de militares e aliados próximos ao ex-presidente. Entre os trechos, está a frustração com a negativa das Forças Armadas em apoiar a intentona.
“Infelizmente a FAB afrouxou e o Exército também está afrouxando”, reclamou um interlocutor, indicando que apenas a Marinha teria demonstrado disposição para um enfrentamento. Um dos envolvidos, o tenente-coronel Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros, chegou a criticar duramente os líderes militares, acusando-os de “traição” e explicando o motivo do recuo de Bolsonaro: “Ele não vai embarcar sozinho porque pode acontecer o mesmo que no Peru. Ele assina o decreto e ninguém o apoia, ele vai preso.”
Cavaliere também relatou ter conversado com Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que confirmou que “o decreto está pronto, mas não será assinado devido à divisão no Alto-Comando”.
As mensagens ainda mencionam os generais Braga Netto e Augusto Heleno, que teriam papel relevante nos planos. Frustrados com o fracasso do golpe, os envolvidos chegaram a expressar desejo de ver os generais presos. Outros diálogos reiteram que Bolsonaro teria desistido de levar adiante os planos devido à ausência de respaldo das Forças Armadas e ao receio de detenção.
O documento de 884 páginas foi enviado à Procuradoria-Geral da República e detalha as articulações que culminaram na tentativa de golpe e os bastidores do impasse que impediu sua concretização.