O inquérito policial sobre o caso ‘VaideBet’ foi concluído nesta segunda-feira (23), indicando que o ex-presidente Augusto Melo possuía “dívidas” referentes a campanhas eleitorais para o clube, financiadas por empresários, influenciadores digitais e até um agiota.

As investigações apontam que os desvios dos recursos do contrato com a patrocinadora teriam servido para quitar esses débitos. Entre os doadores citados está o influenciador Bruno Alexssander, conhecido como “Buzeira”.

O relatório menciona que Melo estaria sofrendo ameaças de um agiota da zona leste, que teria exigido o pagamento sob ameaça de morte. Conforme trecho do inquérito: “essas tais doações foram tratadas como ‘dívidas’, e um agiota estaria perseguindo Augusto, ameaçando matá-lo caso não quitasse o débito”.

O delegado responsável pela investigação, Tiago Fernando Correia, detalha que os envolvidos planejavam desviar 7% da comissão sobre o valor total do contrato, dividido em parcelas mensais de R$ 700 mil, somando cerca de R$ 25,2 milhões.

Além de Augusto Melo, outros dirigentes do clube, como Marcelo Mariano, Sérgio Moura e Yun Ki Lee, foram indiciados.

O documento destaca que as irregularidades surgiram logo no início do contrato, pois o setor de compliance do clube, responsável por fiscalizar possíveis irregularidades jurídicas, não detectou problemas. “Logo em janeiro de 2024, já havia sinais claros de inconsistências no contrato com a VaideBet, antes mesmo da revelação da participação do intermediário”, afirma o relatório.

Outro ponto que chamou a atenção foi o pagamento das comissões a Alex Cassundé, também indiciado, que seria o intermediário dos valores. Sua empresa, Rede Social Media Design, esteve envolvida na campanha de Augusto Melo. Os repasses feitos a empresas de fachada, como a Neoway, levaram à abertura do inquérito em junho de 2024. O delegado afirmou: “Ficou comprovado que a Neoway era uma sociedade de fachada, criada para ocultar e disfarçar recursos ilícitos”.

No relatório final, as autoridades mencionam o possível envolvimento do Primeiro Comando da Capital (PCC) na lavagem de dinheiro vinculada ao clube. Foi revelado que pelo menos R$ 870 mil foram depositados na conta da UJ Football Talent Intermediação, relacionada a Vinícius Gritzbach, que foi assassinado em novembro de 2024 no Aeroporto de Guarulhos, e que em delação indicou contas ligadas à organização criminosa.

O inquérito afirma que “os recursos desviados do Sport Club Corinthians Paulista foram transferidos para contas de uma empresa suspeita de ligação com o PCC”.

A defesa do influenciador “Buzeira” foi procurada, mas não se manifestou até o momento.

Defesa de Augusto Melo

Em nota oficial divulgada após a reportagem, a defesa de Augusto Melo negou categoricamente qualquer ligação do ex-presidente do Corinthians com o crime organizado:

“A defesa do presidente do Sport Club Corinthians Paulista, Augusto Melo, nega veementemente qualquer envolvimento com organizações criminosas, como tem sido irresponsavelmente divulgado por alguns setores da imprensa.

Até o presente momento, não existe qualquer prova concreta que conecte Augusto Melo a atividades ilícitas. A investigação refere-se exclusivamente a um contrato específico com a empresa VaideBet, sem indícios que relacionem o presidente a práticas criminosas.

As informações veiculadas baseiam-se em supostos vazamentos e na repetição de matérias jornalísticas, sem valor probatório ou relevância penal.

Causa estranheza a tentativa de promover narrativas sensacionalistas sem fatos novos ou fundamentos legais que justifiquem a exposição difamatória. Augusto Melo segue à disposição da Justiça para quaisquer esclarecimentos, reafirmando seu compromisso com a ética, legalidade e transparência no exercício de suas funções.”