
Argentina – Presa na Argentina, a brasileira Ana Paula de Souza afirma estar abandonada pelas autoridades locais e por políticos brasileiros. Ana Paula fugiu para o país vizinho após quebrar a tornozeleira que usava no Brasil. Ela foi condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por participação nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023.
Ela se encontra presa à espera do julgamento de extradição para o Brasil, solicitada pela Corte. Em entrevista à CNN Brasil concedida por telefone nesta quinta-feira, 14, a paranaense afirmou que ela e outros brasileiros na mesma situação estão “jogados às traças”: “Nós estamos esquecidos em uma penitenciária da Argentina. Estamos simplesmente abandonados e ninguém se preocupa”.
Ana Paula mencionou a falta de apoio de parlamentares brasileiros. Em maio deste ano, um grupo de senadores que incluía Magno Malta (PL-ES) e Damares Alves (Republicanos-DF) fizeram visita a cinco presos, mas ela se queixa de que o contato não continuou.
A audiência de extradição dela foi adiada duas vezes e suspensa a pedido da defesa, que apresentou recursos em segunda instância. Ana Paula foi condenada a 14 anos de prisão, pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado e deterioração do patrimônio tombado.
Quando foi presa, ela já havia entrado com pedido de refúgio na Argentina. No complexo penitenciário, ela relata ter sofrido xenofobia, ameaças, tentativas de extorsão de outras presas e problemas de saúde causados por água contaminada.
Apesar das dificuldades, a brasileira diz não se arrepender de participar da “manifestação” do 8 de Janeiro ou da fuga, mas de ter escolhido a Argentina como destino. Também acusa o governo de Javier Milei de incoerência e negligência.
“Não tem como você dizer: ‘Ah, Lula e Alexandre de Moraes perseguem os brasileiros’, e quando essas pessoas vêm para cá pedir ajuda, você os prende. Para mim, isso não é coerente”, disse.
O presidente argentino nunca se pronunciou sobre dos foragidos brasileiros do 8 de Janeiro, mas, em junho do ano passado, um porta-voz informou em coletiva de imprensa que a situação de quem pediu refúgio no país seria analisada caso a caso pela Comissão Nacional para os Refugiados da Argentina (Conare).
Em novembro do ano passado, a Justiça da Argentina determinou a prisão de 61 acusados de participar dos atos extremistas no Brasil. O pedido de prisão para fins de extradição feito pelas autoridades brasileiras citava 140 pessoas.