Brasil – O fortalecimento de uma base de apoio parlamentar está sendo levado tão a sério pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que ele está abrindo mão dos tradicionais recados nas entrelinhas da política e sendo explícito no apoio às reeleições de Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Câmara e de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para a do Senado.

Na primeira reunião ministerial na nova gestão federal, na última sexta (6/1), Lula chamou a imprensa para registrar seu discurso inicial, citou nominalmente os presidentes das duas Casas do Congresso e cobrou de sua equipe que trate bem todos os parlamentares: “É preciso que a gente saiba que é o Congresso que nos ajuda. Nós não mandamos no Congresso, nós dependemos do Congresso e, por isso, cada ministro tem que ter a paciência e a grandeza de atender bem cada deputado, cada deputada, cada senador, cada senadora”, afirmou o petista.

Lula se preocupa porque, mesmo após ter acomodado em seus ministérios integrantes de partidos que não o apoiaram desde o início da campanha, como MDB, PSD e União Brasil, o governo ainda tem uma base insuficiente para lhe dar conforto, sobretudo em casos de Propostas de Emenda à Constituição (PECs) e eventuais ameaças de impeachment.

Por isso, o presidente não quer (nem pode) cometer um erro que já comprometeu os mandatos de antecessores dele, como Dilma Rousseff (PT) e Jair Bolsonaro (PL), além do próprio Lula em seu primeiro mandato: se envolver na disputa pela chefia de Câmara ou Senado e perder ou se arrepender de uma vitória de Pirro.

Em 2005, no início da segunda metade de seu primeiro mandato, Lula apostou na eleição do petista Luiz Eduardo Greenhalgh para a presidência da Câmara, mas quem levou o cargo foi o escolhido pelo grupo de deputados conhecido como “baixo clero”, Severino Cavalcanti (PP). Apesar do baque, o petista ainda conseguiu compor com os novos poderosos da Casa e não teve tantos problemas quanto aos seus sucessores que cometeram o mesmo erro.

Quem se deu pior foi Dilma, que, ao iniciar seu segundo mandato, estimulou o PT a se contrapor a uma vitória certa de Eduardo Cunha (MDB-RJ) com a candidatura de Arlindo Chinaglia (PT-SP), e viu o eleito virar um adversário que acabou sendo fundamental em seu impeachment.

Já Bolsonaro iniciou uma relação turbulenta com o Congresso ao apoiar, logo no início de seu mandato, em 2019, as eleições de Rodrigo Maia (então no DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (então no DEM-AP) para as presidências de Câmara e Senado. Sem habilidade para articular com o Parlamento, Bolsonaro e seus aliados logo transformaram os dois em adversários e os culparam por não conseguirem avançar com a agenda do Executivo, numa situação que só mudou na segunda metade do Congresso, com a eleição de pelo menos um presidente de Casa legislativa mais alinhado com o governo: Arthur Lira.

Fonte: Metrópoles